Modelo adotado no setor elétrico já não funciona
A matriz hídrica faz do Brasil uma das exceções no mundo da geração de energia elétrica. Com a aproveitamentos hidráulicos de vulto, a exemplo da usina de Itaipu, o país conseguiu montar uma matriz de calcada em uma fonte renovável e de custo relativamente baixo.
Mas uma matriz elétrica com essas características depende do regime de chuvas. Para reduzir a vulnerabilidade desse modelo, muitas hidrelétricas foram construídas no passado com reservatórios que acumulam água para uso posterior, nos anos de chuvas insuficientes.
Os aproveitamos que permitem a construção de reservatórios de acumulação se esgotaram, ou as exigências para licenciamento ambiental se tornaram mais rígidas, limitando as áreas passíveis de inundação. Na Amazônia, essas restrições fazem com que as novas usinas sejam praticamente a fio d'água, ou seja, operem com a vazão natural dos rios. Assim, nos períodos de cheia as hidrelétricas funcionam a plena capacidade, e na vazante podem até ser paralisadas.
Esse sistema é interligado nacionalmente, de modo a otimizar a energia armazenada nos reservatórios. A interligação de faz por meio de linhas de transmissão, que possibilitam, inclusive transferir excedentes de energia de uma região para outra, a longas distâncias. Mesmo com tal possibilidade, a matriz de base hídrica precisa de outras fontes que a complementem. A maneira mais convencional é a de origem térmica, utilizando-se o vapor decorrente da queima de combustíveis fósseis (carvão, gás, óleo diesel, óleo combustível, biomassa) ou da fissão nuclear.
Os custos de operação dessas usinas são mais elevados que os das hidrelétricas e, por isso, geralmente elas são instaladas junto às áreas de produção dos combustíveis ou dos centros de consumo. Outras fontes renováveis vêm sendo progressivamente utilizadas, como é o caso das usinas eólicas e de energia solar, mas ambas opções também dependem do clima. Em situação de normalidade, esse modelo funciona com um custo médio razoável. Mas em momentos de anormalidade, como o atual, a equação não fecha. Com índices pluviométricos bem abaixo das médias históricas nas áreas que concentram a maior parte dos reservatórios no Brasil, a participação da usinas térmicas mais caras (que deveriam ser acionadas apenas ocasionalmente) aumentou enormemente na matriz elétrica do país.
Para completar o cenário de crise, a intervenção atabalhoada do governo Dilma no setor, para forçar o corte de tarifas, provocou um enorme desequilíbrio financeiro. E para evitar reajustes de tarifas em período eleitoral, o Tesouro tem subsidiado parte dos custos, assim como por meio de empréstimos bancários. A conta poderá chegar a R$ 60 bilhões, este ano. E terá de ser transferida de alguma forma ao consumidor. É um dos mais sérios e urgentes problemas que estarão à espera do próximo presidente, em janeiro.