O Estado de S. Paulo - 17/07/2012 |
Mais uma vez, os analistas de mercado, conforme o boletim Focus mais atualizado, divulgado na manhã de ontem, revisaram para baixo as projeções para a evolução do PIB, em 2012. O recuo das estimativas tem sido gradual, já se verifica há dez semanas consecutivas e pela primeira vez rompeu para baixo a barreira dos 2%. Também ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou a revisão trimestral do seu relatório "Panorama Econômico Global", com uma ligeira baixa nas projeções de crescimento da economia mundial, de 3,6% para 3,5%, em 2012. O ligeiro corte se deve a previsões de expansão menor nas economias emergentes, em comparação com as estimativas de abril. Em relação à economia brasileira, o FMI também divulgou um recuo nas projeções, de 3,1% para 2,5% neste ano, em linha com as atuais estimativas do Banco Central. Tanto no caso da economia brasileira como no da chinesa, o FMI destaca que o arsenal de estímulos já utilizado, mais as armas ainda à disposição para serem acionadas, devem impulsionar uma retomada, no segundo semestre. Para o Brasil, por exemplo, o FMI estima que, no último trimestre, a expansão do nível de atividades se dará num ritmo nas vizinhanças de 4% - como, por sinal, o governo insiste em bancar. Só no fim de agosto, quando está prevista a divulgação pelo IBGE da taxa de evolução da economia no segundo trimestre, se saberá se as pressões baixistas sobre o nível de atividades alcançaram, ali, o fundo do poço, dando lugar, como espera a maior parte dos analistas, ao início de algum tipo de recuperação. Os indicadores antecedentes, de fato, parecem apontar para algo nesse sentido. Mesmo com a estagnação observada em maio pelo índice mensal de atividades do Banco Central, é possível que o crescimento no segundo trimestre seja um pouco maior, chegando a 0,5% sobre o trimestre anterior. Caso essa projeção se confirme, o quadro da evolução econômica em 2012 estaria razoavelmente definido, sob a forma de uma curva ascendente, trimestre a trimestre, embora com inclinação suave. Resumindo a história, em algum momento do segundo semestre os analistas consultados pelo "Focus" podem começar a revisar, para cima, mas também lentamente, suas estimativas para o desempenho da economia em 2012. É uma boa aposta imaginar que este início de segundo semestre marcaria um momento de transição, na estreita faixa em que a economia pode se mover, apenas com resposta aos estímulos pontuais que vem recebendo, sem reformas mais profundas nas estruturas de produção. Considerando os efeitos estatísticos, seria agora que a atividade deixaria de recuar e encontraria espaço para uma retomada, ainda que não tenha muito fôlego. Um teste interessante, para localizar ou não esse ponto de inflexão, deve vir nesta semana, quando o Ministério do Trabalho promete divulgar a evolução da criação de empregos formais, em junho. O recuo nas contratações líquidas em maio foi maior do que o previsto, mas a expectativa é de que o resultado do mês passado tenha sido melhor do que o anterior. Mesmo considerando que, incluindo junho, a média mensal dos últimos seis meses aponte para os números mais fracos desde 2009, a hipótese mais aceita é a de que, juntamente com retomadas nas vendas no varejo, a criação de empregos será suficiente para reforçar a expectativa de moderada recuperação no crescimento econômico, daqui até o fim do ano. Não se pode esquecer que a série de medidas de estímulos adotada desde o começo do ano - e reforçada em abril e maio - mal começou a produzir resultados. Os impactos da desvalorização do câmbio, do alívio de tributos nas folhas de pagamento, das isenções de impostos e da decisão de incrementar as compras governamentais ainda não se refletiram por inteiro nos números da economia. O mesmo se pode dizer dos efeitos com origem no ciclo, ainda não encerrado, de cortes dos juros básicos. A ata da última reunião do Copom, que promoveu o oitavo corte consecutivo de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic, também esperada para esta semana, pode dar mais sinais de que, quem sabe, o pior já tenha ficado para trás. |