Valor Econômico - 12/07/2011
Cinco empresas brasileiras tiveram suas notas de crédito elevadas pela Moody"s este ano e nenhuma foi rebaixada. O desempenho, medido pela agência de rating em estudo que será divulgado hoje e obtido com exclusividade pelo Valor, mostra um avanço em relação ao observado em igual período do ano passado, quando três empresas tiveram notas elevadas e apenas uma recebeu "downgrade". E confirma o destaque do país dentre os países da América Latina, onde houve 22 elevações e seis rebaixamentos - o que pode ser considerado um resultado bastante favorável.
Esse quadro reflete a melhora da percepção de risco privado no país. E é uma das explicações para o fato de as empresas terem realizado no primeiro semestre um volume recorde de captação externa, perto de US$ 30 bilhões, mesmo sem uma emissão soberana nesse período.
"As companhias brasileiras têm mostrado maturidade suficiente para acessar os mercados estrangeiros e a tendência é que outras desconhecidas recorram a eles no futuro para a tomada de crédito", diz Filippe Goossens, vice-presidente sênior da Moody"s e autor do documento.
Tradicionalmente, o mercado de bônus ganha movimento nos períodos pós-emissão soberana, pois as condições de captação do Tesouro servem de termômetro do apetite pelo risco Brasil e também são vistas como referência para operações privadas. Esse quadro, entretanto, tem mudado. E o que se viu neste ano prova que a percepção do risco privado do país está melhor. Além do volume de captações no primeiro semestre ter sido recorde para o período, os emissores tradicionais pagaram, em média, taxas de retorno mais baixos. E outras empresas, menos conhecidas desse mercado, fizeram operações consideradas bem-sucedidas. Apenas no início de julho, o Tesouro fez a reabertura do bônus 2021, pagando a menor taxa de juros da história (4,188%) e o mais baixo spread (diferença) em relação ao título do Tesouro americano de prazo equivalente (1,05 ponto).
Segundo o estudo da Moody"s, 64% das novas emissões brasileiras no semestre foram feitas por empresas classificadas abaixo do "grau de investimento", com nome pouco conhecido ou totalmente novo para os investidores estrangeiros de forma geral.
Para a agência, além do apetite dos estrangeiros por papéis de renda fixa de maior risco - e rentabilidade -, em meio à forte liquidez e baixos retornos praticadas no mundo desenvolvido, existe um reconhecimento de "maturidade" das empresas nacionais, explica Goossens.
Um exemplo da condição mais sólida das empresas brasileiras, segundo Goossens, é o upgrade concedido à Braskem (Baa3) em março deste ano, única empresa do setor químico da América Latina a receber grau de investimento. Outra citada é a Localiza (Baa3), do ramo de aluguel de automóveis. Elas, assim como outras de diferentes setores, ganham fôlego para captações sem ter de depender da emissão de títulos soberanos do país, que aconteceu somente uma vez este ano.
Segundo Goossens, o aumento no número de ações positivas reflete uma tendência natural por parte das companhias, que passaram bem pelas dificuldades da crise econômica e já são reconhecidas de maneira descolada da classificação soberana. "[O rating mostra] um mix de fatores, não necessariamente ligados ao grau de investimento do país", diz.
A tendência de aumento de elevações em relação aos rebaixamentos é reconhecida desde o terceiro trimestre de 2009, mas ainda não chegou ao padrão pré-crise do segundo trimestre de 2007, quando houve duas ações de rating negativas para um total de 19 positivas em toda a região.
Entre outras companhias nacionais citadas com ratings positivos estão Gerdau (Ba1, sob revisão para possível elevação), Cosan (Ba2, sob revisão para possível elevação), Minerva (B2, positiva) e Brazil Foods (Ba1, positiva).
TERROR DO NORDESTE
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