Uma legião de brasileiros começou ontem a ocupar as estradas, em busca
de descanso e tranquilidade no feriado extenso, mas exposta ao risco
de participar da escalada de acidentes fatais nas principais rodovias
do país. Somente no último Carnaval, 213 pessoas perderam a vida na
malha rodoviária federal, um recorde de vítimas em nove anos.
Muitas dessas mortes são previsíveis, segundo revelou levantamento
desta Folha sobre as circunstâncias de 144 colisões fatais ocorridas
naquele feriado. Quase a metade, 70 delas, foi registrada nas
proximidades de pontos já identificados pelo Dnit (Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes) como "concentradores de
acidentes".
A repetição local das tragédias indica deficiências técnicas das
rodovias, como falta de sinalização, pavimentos esburacados, ausência
de acostamento ou curvas mal projetadas. A imprudência também costuma
ser um fator, sobretudo se aliada ao álcool.
Fica patente que o poder público falha duplamente na tarefa de
prevenir acidentes: ao não oferecer condições adequadas para os
motoristas e, mesmo após tomar conhecimento dos efeitos recorrentes do
descaso, ao não reforçar de maneira rigorosa a fiscalização dos
trechos mais perigosos.
O Dnit argumenta que exigências administrativas e prazos mínimos para
preparar projetos, licitações e relatórios ambientais limitam a ação
do governo. Mas a burocracia não é a única responsável pela
inoperância, como comprova a demora do governo federal em reinstalar
lombadas eletrônicas desativadas, por razões contratuais, desde 2007.
Os estudos mostram que tais radares fixos contribuem para uma redução
de quase 70% dos acidentes nos locais onde são instalados. O governo
Lula tardou a providenciar nova licitação e problemas no edital
fizeram com que a disputa se arrastasse na Justiça. Só nas últimas
semanas os primeiros radares, do total de 2.696 previstos, passaram a
ser instalados.
Apesar da proibição, a venda de bebidas alcoólicas em rodovias
continua desimpedida, na prática. Uma vez que os pontos de venda são
conhecidos, assim como os trechos mais perigosos, nada - a não ser uma
omissão criminosa- impede a repressão policial. É o único recurso para
conter as estatísticas macabras, a cada feriado, enquanto as estradas
não passam pela necessária recuperação.