Não há dúvida que a bestialidade dos EUA ajudou no golpe em Honduras
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Não há dúvida que a bestialidade dos EUA ajudou no golpe em Honduras


Ações do documento Os tentáculos independentes da Casa Branca

Embora sem evidências de participação direta do governo dos EUA, os chamados falcões de Washington e até advogado ligado à Hillary Clinton podem estar envolvidos na deposição de Zelaya
Eduardo Sales de Lima

da Redação

O presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya, foi deposto nas primeiras horas de 28 de junho. Os militares o detiveram e o expulsaram do país, sob a alegação de que ele pretendia infringir a Constituição ao tentar convocar uma consulta popular sobre uma reforma à Carta Magna. Dois meses depois do ocorrido, continuam a surgir informações sobre a participação, no golpe de Estado contra Zelaya, de funcionários, ex-funcionários do governo estadunidense e pessoas ligadas à Casa Branca.

Virgílio Arraes, especialista em relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), por seu lado, acredita que, sobre a participação direta do governo dos EUA, o que surgem, até o momento, são apenas especulações. “O desgaste de um apoio direto da Casa Branca ao golpe seria grande, tendo em vista o pouco peso político de Honduras na América Latina”, explica.

Arraes pondera ainda que “Obama herdou uma série de problemas significativos da gestão Bush – duas guerras de médio porte e uma crise econômica – para despender energias com um país cujo presidente estava em fim de mandato”, afirma.

Entretanto, cruzadas as informações veiculadas tanto por jornais latino-americanos como estadunidenses, é possível apontar a participação de pessoas ligadas ao governo estadunidense. Por exemplo, no dia 22 de junho, o jornal hondurenho La Prensa revelou que na noite anterior havia ocorrido uma reunião entre políticos influentes do país, chefes militares e o embaixador estadunidense Hugo Llorens, com a finalidade de “procurar uma saída à crise” criada por Zelaya.

Também o New York Times, dos EUA, confirmou que tanto o secretário de Estado Adjunto para assuntos do Hemisfério Ocidental, Thomas A. Shanon, como o embaixador Llorens, tinham “falado” com altos oficiais das Forças Armadas e com líderes da oposição sobre “como derrubar o Presidente Zelaya, como o prender e qual autoridade poderia fazer isso”.

“Falcões”

“O grau de dependência do terceiro país mais pobre da América Latina não permite que seus dirigentes políticos e administradores tomem decisões dessa natureza com independência”, afirma, ao Brasil de Fato, Gilberto Ríos, um dos coordenadores da Frente de Resistência ao Golpe. Ele lembra ainda que, quando se consumou o golpe de Estado, “não coube a menor dúvida de que ele tinha o aval da embaixada estadunidense”. No entanto, como lembra Ríos, somente dias depois o embaixador dos EUA reconheceu que havia participado das reuniões que trataram do golpe.

Llorens é um cubano estadunidense emigrado para Miami aos 7 anos de idade, em 1961. Era diretor de Assuntos Andinos do Conselho de Segurança Nacional em Washington quando aconteceu o golpe de Estado contra o presidente venezuelano Hugo Chávez, em abril de 2002.

Tanto Llorens quanto o empresariado hondurenho possuem estreitas ligações com John Negroponte e Otto Reich. O primeiro, conta Ríos, esteve na capital Tegucigalpa semanas antes do golpe, onde se reuniu com personagens da ultra-direita hondurenha, entre eles os ex-presidente Carlos Flores Facussé, que para o líder da Frente de Resistência ao Golpe, é o cabeça da deposição de Zelaya.

Otto Reich, por sua vez, possui uma “sombra” chamada Roberto Carmona, que, segundo Gilberto Ríos “levava mais de um ano implementando uma campanha de descrédito da administração Zelaya, com o apoio dos mesmos meios de comunicação que agora apóiam o golpe de Estado”. Carmona, advogado especialista em temas militares, está diretamente vinculado ao golpe de abril de 2002, na Venezuela. Ríos lembra que tal personagem se apresentou em Tegucigalpa logo após a execução do golpe para se pôr a serviço do governo de fato.

Escola das Américas

Mais importante que Carmona é seu cúmplice, Reich, conhecido internacionalmente, e, sobretudo, na América Central, por aglutinar os cubanos de ultra-direita exilados em Miami. Após o golpe, Otto Reich tem feito um forte lobby em Washington para que o novo governo hondurenho seja reconhecido. Após a investida de Reich, dois congressistas já externaram apoio aos golpistas e “a direita hondurenha agradece publicamente o apoio recebido por Lincoln Díaz-Balart e Iliana Ros-Lehtinen, congressistas pela Flórida”, critica Ríos.

Além disso, os dois generais com maior participação no golpe contra Zelaya são graduados da Escola das Américas – centro estadunidense famoso por formar agentes da repressão das ditaduras latino-americanas – e também mantêm laços estreitos com os militares estadunidenses em Honduras e figuras como Negroponte e Reich.

O comandante da Aviação de Honduras, general Luis Javier Prince Suazo, estudou na Escola das Américas em 1996. O chefe do Estado Maior conjunto, general Romeo Vásquez, também é graduado no mesmo centro de formação.

Para o professor de relações internacionais da UNB, Virgílio Arraes, “no fundo, a busca por uma autonomia, ainda que mínima, por parte do governo deposto, terminou por desorientar os oficiais-generais acostumados a observar o seu país ser guiado de algum modo por uma grande potência, os Estados Unidos”.

Hillary dúbia

Enquanto passa o tempo, os golpistas tentam ganhar fôlego no Congresso estadunidense. Segundo informações da advogada e investigadora venzuelana-estadunidense Eva Golinger, o advogado Lanny Davis foi contratado pela sede hondurenha do Conselho de Empresários da América Latina (CEAL) para fazer lobby a favor dos golpistas e convencer os poderes de Washington de que estes devem aceitar e reconhecer o governo de fato de Honduras.

Lanny Davis foi advogado do ex-presidente Bill Clinton quando este estava na Casa Branca, e é um conhecido amigo e assessor da atual secretária de Estado, Hillary Clinton. O Departamento de Estado, dirigido por ela, ainda não reconheceu o ocorrido no dia 28 de junho como um golpe de Estado, o que obrigaria aos EUA impor sanções ao governo golpista. (Leia mais na edição 340 do Brasil de Fato, já nas bancas)



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