No dia seguinte: Wilson Figueiredo
Política

No dia seguinte: Wilson Figueiredo


DEU NO JORNAL DO BRASIL

Com o jeito de falsa modéstia, que não é o seu forte, ao contrário, o presidente Lula revelou disposição de passar à história republicana como o melhor ex-presidente da República. A seu ver, aquele que menos palpite emitiu a respeito dos que o antecederam e dos que o sucederem.

A ideia é original, mas de difícil aplicação, dado o temperamento presidencial impulsivo. Foi numa alentada entrevista aos jornais O Dia e Brasil Econômico a manifestação. Uma seleção do que ele certamente considera o que de melhor produziu oralmente nos dois mandatos.

Falou bem do seu governo e caprichou na primeira pessoa do singular. Não sobrou elogio para ninguém. Vai ser impossível Lula falar menos do que o presidente Eurico Dutra, de quem já deve ter ouvido falar. Dutra fez uma única declaração como ex-presidente (depois de passar o governo em janeiro de 1951). Foi ao Jornal do Brasil, quando a situação política não atava nem desatava e se encaminhava para o impasse em março de 1964. Uma declaração seca, com sotaque de ave de agouro, e então os fatos se moveram pela lei da gravidade. É difícil imaginar um Lula enigmático.

Como ficará a candidatura para a próxima eleição? Pela ordem natural, penderia para Dilma Rousseff ou José Serra: uma vez presidente, é irrefreável o direito ao segundo mandato. O presidencialismo entrou no beco sem saída pela mão da reeleição. E, antes que seja tarde, terá de voltar atrás, porque saída à frente não tem. Melhor eleição sem reeleição do que as duas mal atendidas. Os últimos meses induziram Lula a dar uma entrevista compensatória por aquela que ficou devendo desde a primeira eleição, por nunca ter acertado a entrevista coletiva da formalidade republicana.

A popularidade presidencial não o encoraja. Entre seus sinais exteriores de medo, esse continua intocado (os outros não vêm ao caso). Mas ainda quer distância da entrevista coletiva que faça a diferença entre o anterior e o atual Lula. Primeiro, porque é inevitável que não espere o fim do governo para emitir opinião com o toque da infalibilidade em relação ao Brasil. Segundo, porque descobriu que falar de governos mortos e enterrados é um prazer especial na hora de fazer as malas. Mortos não reagem. Entrevista coletiva, nem pensar. Nem pensar em exame de admissão à história do Brasil.

O prazer de Lula falar bem dele mesmo não vai secar, mas no dia seguinte, à medida que se inteirar de que o sol continua a aparecer e se recolher a despeito de governos, sentirá a diferença. Enquanto os impostos continuarem a ser pagos sem que o cidadão perceba, pegará mal falar bem de seu governo e mal dos governos alheios. Tudo será como sempre foi, e ele se acomodará. Mais cedo ou mais tarde.

Entenderá, finalmente, que não deve aos meios de comunicação senão respeito. Com direito de ser respeitado. No seu caso, o débito tem juros maiores devido às entrevistas coletivas das quais fugiu, nos dois mandatos, como o diabo da cruz.



loading...

- Dilma Dribla A Armadilha: “não Me Separarão De Lula”
por Brizola Neto Dilma arrastou uma multidão hoje de manhã em Belo HorizonteMesmo envolvida com a carga emocional do último dia de uma campanha extenuante e com o simbolismo de falar às margens da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, “o lugar...

- Lula: Tentaram Me Derrubar
Lula: Tentaram me derrubar "Mensalão foi tentativa de golpe para me derrubar", diz Lula O Presidente Lula disse que o mensalão foi uma tentativa de "golpe" da oposição para derrubá-lo: "Foi uma tentativa de golpe no governo... Foi a maior armação...

- Dedicação Exclusiva A - O Estado De S.paulo Editorial
Fazendo política 24 horas por dia, segundo suas próprias palavras, o ex-presidente Lula da Silva esteve na última quarta-feira em Belo Horizonte para um almoço com lideranças petistas onde, mais uma vez, deixou claro - não expressamente por palavras,...

- Demétrio Magnoli:''lula Delinquiu Institucionalmente''
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO ENTREVISTA:: Demétrio Magnoli, sociólogo Roldão Arruda O sociólogo e professor Demétrio Magnoli acredita que a possibilidade de reeleição para cargos executivos acentuou no Brasil o uso da máquina do Estado como máquina...

- Primeiros Sinais Do Ex-presidente:: Wilson Figueiredo
Primeiros sinais do ex-presidente:: Wilson Figueiredo DEU NO JORNAL DO BRASIL A quatro meses de passar à condição de ex-presidente, o presidente Lula anunciou a dedicação exclusiva, assim que desencarnar, à criação de um organismo muito forte,...



Política








.