Política
Nova resposta - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 05/07
O mundo vive um momento grave da crise que começou em 2008. Ela teve um período de redução de intensidade em 2010, mas voltou a piorar. Neste quadro, é natural a queda do ritmo de crescimento. O governo acertou na redução da taxa de juros, mas não tem tido ânimo para enfrentar a agenda de reformas e mudanças que poderiam melhorar o ambiente de negócios no Brasil. Pior: em seis meses, só investiu 21% do orçamento.
Está na hora de mudar a natureza da resposta à crise. Até agora, o governo apostou apenas em aumento do consumo via endividamento. A família brasileira tem índices de endividamento menores do que os de outros países, mesmo assim, o custo dos financiamentos é muito alto no Brasil. Por isso o fôlego desse tipo de estímulo é mais curto do que em outras economias.
A redução da Selic e o esforço do governo para provocar a queda do spread bancário tornaram as dívidas mais baratas. Mesmo assim, a inadimplência está aumentando, principalmente das pessoas físicas.
O pacotismo serial do governo conseguiu reduzir a crise em poucos setores e por algum tempo, mas não tem sido suficiente. O último dado da produção industrial mostra isso. O setor de linha branca conseguiu segurar a produção em maio, por causa da queda do IPI. Os outros setores despencaram.
Quando sair o dado de junho, os números de produção de veículos serão melhores. Mas nenhuma retomada tem sido sustentada.
Nada disso é estrutural e o governo deveria pensar em outro caminho. Os dados do site Contas Abertas não deixam dúvidas de que o governo tem investido menos do que tem autorização para investir. Bem menos.
Do total previsto para investimentos em 2012 (R$ 90,1 bilhões), a União aplicou até junho só R$ 18,9 bilhões. Mas a notícia pode ser ainda pior: desse montante, apenas R$ 4,8 bilhões foram de investimentos feitos este ano, o restante, R$ 14,1 bilhões, são restos a pagar, ou seja, pendências do ano passado.
- Estamos no meio do ano é só foram investidos 21% do previsto. É muito pouco. Nesse número ainda estão incluídos os restos a pagar - diz Gil Castello Branco, secretário-geral do Contas Abertas.
Se compararmos com o mesmo período do ano passado, a situação está só um pouquinho melhor. Em valores correntes, a União investiu R$ 17,8 bi entre janeiro e junho de 2011, R$ 1,1 bi a menos do que no mesmo período deste ano. Mas os investimentos feitos até agora são inferiores aos do primeiro semestre de 2010 (R$ 19,1 bilhões). Em valores constantes, atualizados pelo IGP-DI, da FGV, a redução entre o montante investido nos primeiros seis meses de 2010 e as aplicações de 2012 chega a R$ 3 bilhões.
O investimento total melhorou um pouco, quando comparamos os primeiros seis meses de 2011 e 2012, mas os números do Ministério dos Transportes seguem na direção contrária. Gil Castello Branco diz que a pasta aplicou neste primeiro semestre R$ 2,3 bilhões a menos do que investiu no mesmo período do ano anterior. Em valores constantes, são menos R$ 2,5 bilhões.
- A crise tem endereço certo. É Esplanada dos Ministérios, bloco R.
Os escândalos que levaram a substituições no Ministério paralisaram a máquina. Como resultado, há muito investimento que precisa ser feito e outros que foram interrompidos pela metade.
O governo precisa fazer um balanço dos pacotes setoriais anunciados, de quanto houve de renúncia fiscal, do resultado atingido. Eles custam caro, produzem desigualdades dentro do sistema produtivo e não têm tido resultado importante. Em vez de perseguir um número de PIB, o governo tem que ter uma proposta, uma agenda. Dentro dela, terá que estar a realização dos investimentos previstos no Orçamento.
O governo não investe, nem deixa investir. O ambiente de negócios no Brasil é hostil ao investimento. Custo da energia é muito alto, carga tributária aumenta todos os anos há duas décadas, sistema tributário é complexo e a logística é deplorável. Enfrentar essa lista é trabalhoso, exige que a presidente lidere a agenda legislativa em vez de apenas apagar incêndio. Neste exato momento, por não ter feito qualquer proposta relevante, e por ser ano eleitoral, o governo está encurralado pelo Congresso, que prepara aprovações de várias bombas fiscais.
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