O 1º ministro Tsipras encontra-se hoje com Vladimir Putin em Moscovo...
... no exacto momento em que a UE, BCE e FMI se reúnem em nova cimeira sobre a Grécia, que amanhã vai ter de pagar uma parcela do empréstimo de 450 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional.
As declarações do Ministro das Finanças sobre este último ponto da Grécia, são inequívocas: a Grécia diz que vai honrar sua dívida. Mas a 14 de Abril, a Grécia deve emitir 1,4 biliões de euros em títulos do Tesouro, para renovar a dívida a curto prazo (o chamado de roll-over da dívida) e o governo tem de pagar 1,7 bilhão em salários e pensões. Boicotando a Grécia de Tsipras, o Banco Central Europeu tem «recomendado» aos bancos privados gregos não aceitar novos títulos do Tesouro de curto prazo emitidos pelo Estado grego.
Os temas oficiais da entrevista em Moscovo, são os de comércio e energia, incluindo a possibilidade de que a Grécia vir a tornar-se o hub europeu do novo gasoduto que substituirá o South Stream bloqueado pela Bulgária sob pressão dos EUA, que levará através da Turquia gás russo para entrar na EU perto da fronteira grega. Tsipras irá também discutir uma possível flexibilização das contra-sanções russas de modo a permitir a importação de produtos agrícolas gregos. De acordo com a Tass (31 de Março), Tsipras informou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o representante da política externa da UE, Federica Mogherini, que "nós não concordamos com as sanções contra a Rússia". E na primeira Cimeira UE em que participou em 19/20 de Março declarou oficialmente que "a nova arquitectura de segurança europeia deve incluir a Rússia". Confirmando esta posição, Tsipras voltará a Moscovo a 9 de Maio para estar presente no 70º aniversário da vitória sobre a Alemanha Nazi, uma celebração boicotada pela maioria dos líderes ocidentais (de Obama a Merkel e Cameron). Alí estará também o presidente chinês Xi-Jinping, com uma representação das forças armadas chinesas, que marcharão na Praça Vermelha ao lado dos russos para simbolizar a aliança cada vez mais estreita entre os dois países. O presidente Putin, por sua vez, estará em Setembro, em Pequim para celebrar o 70º aniversário da vitória da China sobre o Japão militarista. Próxima da Rússia, a Grécia de Tsipras tem feito diligências em conjunto com a China para integrar a nova área económica euro-asiática, que emerge com base no Banco de Investimentos em Infraestruturas na Ásia criado a partir de Pequim, que se uniu com a Rússia a cerca de 40 outros países – e também aos mais importantes dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) - visando suplantar o Banco Mundial e o FMI que são dominados pelos EUA e grandes potências ocidentais. Por aqui, a Grécia poderá receber os meios financeiros para escapar ao sufocante aperto da UE, BCE e FMI. Em troca, a China quer o Porto do Pireu para aí funcionar um importante hub da sua rede comercial.
Segundo o "The Independent" (3 de Abril), "o governo grego está pronto para nacionalizar os bancos do país e criar uma nova moeda", que está pronto para deixar o euro e, se forçado, até mesmo pela UE.
Aqui entra em jogo um outro factor: a adesão da Grécia, não só à União Europeia, mas também à NATO. "Uma Rússia amiga da Grécia poderia paralisar a capacidade da NATO para reagir a uma eventual agressão russa", adverte Zbigniew Brzezinski (AFP, 25 de Março). São palavras ameaçadoras a ser tidas em conta, na medida em que Brzezinski, autor na década de 90 da estratégia de expansão dos EUA para a Ásia (The GRand Chessboard), tem sido por décadas um consultor estratégico da Casa Branca, mantendo-se em contacto próximo com a administração Obama. Embora o ministro da Defesa Kammenos garanta que "o novo governo grego mantém os seus compromissos com a NATO, apesar das suas relações políticas com a Rússia", Washington e Bruxelas têm definitivamente em preparação um plano para evitar que a Grécia se torne um "elo mais fraco" no novo enfrentamento com a Rússia e, de facto também com a China. O golpe de Estado de 1967, que trouxe ao poder na Grécia os a ditadura dos Coronéis, foi implementado de acordo com o plano, "Prometheus" da NATO. Os tempos mudaram, mas não os interesses políticos e estratégicos que sustentam a NATO, pelo contrário, esta tem-se refinado e tornado mais experiente nos métodos de desestabilização interna dos países-alvo da organização mais terrorista do mundo.
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