Política
o Capanga
Ele
matou centenas de pessoas, é um especialista em rapto e tortura e foi, durante muitos anos, comandante da policia em Chihuahua. Recebeu inclusivamente treinos do FBI. Contratado por um Cartel da droga na sua fase de estudante estagiário na escola de policia mudou-se para Ciudad Juárez e movimentava-se livremente através dos dois lados da fronteira, entre o México e os Estados Unidos. De momento, seduzido por uma dessa seitas militantes de Deus, retirou-se, fez um seguro familiar de 250 mil dólares e vive como um fugitivo, conquanto nunca tivesse sido acusado de qualquer crime em nenhum dos dois países. O documentário foi filmado num quarto de motel algures na fronteira México/EUA onde o protagonista conta toda a sua história. El Sicário é um tipo inteligentíssimo, organizado e extremamente credível. O filme foi realizado sobre um trabalho de Charles Bowden publicado em 2009 na “Harpers Magazine” (
link)
No mesmo dia em que o documentário de
Gianfranco Rosi “
El Sicario - Room 164” ganha o DocLisboa, no mesmo jornal que dá a noticia, vinha uma outra onde se dá conta de
mais uma chacina que causou pelo menos 12 mortos em Ciudad Juárez .
“Recebia ordens de duas pessoas. Eles é que me formaram e me manejavam” continua a descrever el Sicario, “Nunca sabia para que cartel trabalhava. A determinada altura Vicente Carrillo estava em guerra com El Chapo Guzmán. Porém nunca conheci nenhum chefe, assim como quando começou a guerra em 2006, soube para quem matei. As ordens podiam ser de um ou de outro. Eu vivia num célula com mais três companheiros e simplesmente recebiamos ordens. Em Juaréz bastam 30 minutos para que 60 tipos bem treinados e armados se juntem em 30 carros e saiam para as ruas para mostrar o seu poder. Logo, começamos a receber ordens e a matarmo-nos uns aos outros”
Ciudad Juaréz, o pano de fundoA assim chamada guerra da droga atinge níveis muito mais altos que se possa imaginar. Perto de 23.000 pessoas já foram assassinadas em acções relacionadas com o tráfico de droga no México desde que, em 2006, as forças militares dos Estados Unidos resolveram atacar e destruir a concorrência dos Cartéis aos negociantes de droga oficiais (1). Em 2009 foram mortas 9.600 pessoas. E os números têm tendência a aumentar.
Charles Bowden,
no seu livro “Cidade da Morte: Ciudad Juaréz e os Novos Campos Mortíferos da Economia Global” descreve como a situação se foi transformando ao longo dos últimos anos:“É simples. 27 por cento das casas na cidade estão abandonadas. Isto significa um número de 116.000 fogos habitacionais. Isto numa cidade onde outra imensa percentagem vivem literalmente em caixas de cartão na rua. No ultimo ano 10.000 lojas desistiram do negócio e encerraram. Entre 30 a 60 mil pessoas, a maioria ricos, mudaram-se para a vizinha El Paso nos Estados Unidos que é uma cidade segura. Entre elas está o Mayor de Juaréz que vive entrincheirado em El Paso. Outras 400 mil pessoas simplesmente deixaram a cidade.
A principal parte do problema é económico, não tem a ver com a violência. Pelo menos 100 mil empregos nas fábricas “
maquilladoras” instaladas na fronteira desapareceram desde o inicio do período de recessão, por causa da competição que vem da oferta da Ásia” -
O desemprego provocou a disponibilidade de muita mão de obra para que se constituíssem entre 500 a 900 gangues de tráfico de droga. Se este negócio existe é porque existem clientes, e eles não são decerto
os mexicanos (2) – “Então o que temos aqui – temos a entrada de 10.000 soldados federais e o corpo de agentes da policia reforçado actuando em colaboração. Temos uma cidade onde ninguém sai à noite; onde os pequenos negócios são alvo de extorção; onde 20.000 carros foram roubados o ano passado; onde, segundo os números oficiais, foram já assassinadas 2.600 pessoas este ano; onde ninguém tem registos exactos de quantas pessoas foram raptadas e nunca mais apareceram; onde ninguém conta as pessoas que são enterradas em covas secretas, de forma dissimulada, retiradas da terra de tempos a tempos. O que temos aqui é um desastre. E temos 1 milhão de pessoas demasiado pobres para sobreviverem, aprisionadas aqui”
(1) Hillary Clinton disse em Março passado: “Sabemos muito bem que os traficantes de droga são motivados pela procura de drogas ilegais no Estados Unidos e que eles são armados pelo transporte de armas a partir dos Estados Unidos”. Num relatório da ATF refere-se que cerca de 40 por cento das armas apreendidas no México eram provenientes dos EUA. A razão porque não se sabe de onde vêm as restantes é porque
o Exército do México não dá autorização para se examinar as armas que são apreendidas. Então o que temos de entender é que num exército de 250 mil efectivos, cerca de 150 mil soldados desertaram e obviamente muitos levaram as armas consigo, interagindo depois com as lojas de venda legal de armas nos Estados Unidos
(2)
Ver também, "
A fraude nas eleições que trouxe Vicente Calderón ao Poder e a "Zona Livre de Mercado Comum" criada posteriormente entre o México, Canadá e Estados Unidos (a ALCA que a maioria dos paises da América Latina rejeitaram), politica que, por coincidência, tal como a "guerra das drogas" teve também início em 2006"
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