O consenso americano O ESTADO DE S PAULO EDITORIAL
Política

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Há um raro consenso, neste momento, sobre a necessidade de estímulo à economia, disse o presidente eleito Barack Obama ao apresentar, ontem à tarde, os principais nomes de sua equipe econômica. Ele está certo, mas há algo mais que esse consenso: a crise força o presidente George W. Bush, em finzinho de mandato e com o prestígio muito baixo, a agir com ousadia para limitar a extensão do desastre. Errou, portanto, quem previu um vácuo de poder até a posse do novo presidente, em 20 de janeiro. O atual governo terá de fazer o necessário para entregar o país em funcionamento, apesar de tudo, à próxima equipe. O novo socorro ao Citigroup, negociado no fim de semana, foi mais um lance dramático na luta para restabelecer as condições de operação do setor financeiro. O governo, disse Bush, está preparado para tomar outras decisões difíceis. "O primeiro passo para a recuperação é salvaguardar o sistema financeiro", afirmou.

Não há dúvida quanto a isso, embora políticos, economistas, empresários e trabalhadores cobrem do governo, desde já, algo mais que a salvação dos bancos e de outras instituições de crédito. Querem também socorro a grupos industriais e comerciais pressionados pela insegurança, pelo crédito escasso e pela retração dos consumidores. O desemprego cresce. Dezenas de lojas de varejo já foram fechadas e novos fechamentos deverão ocorrer em breve, porque as vendas de Natal serão fracas.

O presidente eleito promete ações audaciosas para levar a economia de volta ao crescimento. Algumas orientações básicas de seu plano são conhecidas. Programas de ajuda a setores industriais, como o automobilístico, deverão incluir condições especiais, como a adoção de tecnologias poupadoras de energia e compatíveis com a preservação ambiental. Também é conhecida uma das metas, a criação de 2,5 milhões de postos de trabalho até 2011.

O futuro secretário do Tesouro, Timothy Geithner, preside o Federal Reserve Bank (Fed) de Nova York desde novembro de 2003. Participou das negociações para a compra do quase quebrado Bear Stearns pelo J.P. Morgan Chase, em março. Atuou também noutros momentos da crise financeira, neste ano, sempre apoiando as intervenções consideradas necessárias à limitação dos danos. É respeitado no setor financeiro e conhecido por defender maiores poderes de regulação e de intervenção para o Fed.

Lawrence Summers, professor de Harvard, foi secretário-adjunto e depois secretário do Tesouro no segundo mandato do presidente Bill Clinton. Chefiará o Conselho Nacional de Economia, órgão do Gabinete Executivo da Presidência da República. O conselho coordena a formulação de políticas econômicas internas e externas, administra os programas de interesse presidencial e acompanha a execução da agenda econômica do governo.

Haverá com certeza novidades na concepção e na execução das ações econômicas, mas dificilmente haverá descontinuidade na passagem do atual governo para o seguinte. A linha básica de socorro ao setor financeiro e de estímulo à atividade econômica está traçada e será mantida, provavelmente, sem rupturas importantes nos primeiros tempos. Todos os compromissos econômicos assumidos pelo presidente Bush, nesta fase de crise, serão respeitados, prometeu Obama.

O futuro presidente será forçado a novas ações custosas, pelo menos no primeiro ano do mandato, para conduzir a economia à normalidade. No caso de uma depressão, hipótese não descartada por respeitados economistas, terá de recorrer a ações ainda mais audaciosas. Quando começar a recuperação, no entanto, as condições fiscais serão bem mais precárias que hoje. A dívida pública será muito maior, o ajuste orçamentário será penoso e o governo ainda terá de se desfazer de alguns ativos comprados na crise. Obama provavelmente não desejará manter o Tesouro americano como acionista de bancos privados. A intervenção no Citigroup, por exemplo, deve dar ao governo uma fatia de 7,8% da instituição, segundo o diretor-financeiro do banco, Gary Crittenden. Quando essas operações forem desmontadas será possível conhecer com exatidão o custo das intervenções. Neste momento, Bush não tem escolha, nem Obama terá em seu primeiro ano. Boa parte de sua agenda está dada.



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