O Estranho Incómodo
Política

O Estranho Incómodo


A promessa de redução das deduções dos “mais ricos” tem dado que falar. E diversas considerações podem/devem ser tecidas sobre a mesma. Mas a discussão em seu torno tem também revelado alguns dados interessantes. Como por exemplo, nunca me tinha apercebido que havia tanta gente incomodada com a taxação de rendimentos acima dos 5000 euros por mês.

A medida é eleitoralista? Claro que sim. Tendo em conta o posicionamento que Sócrates tem tido sobre estas temáticas, não há dúvida que a promessa da sua adopção corresponde a um súbido e duvidoso piscar de olho à sua esquerda, armado em Robin dos Bosques.

A medida terá um impacto significativo? Pelas contas já feitas por alguns, o tirar aos ricos com o modelo proposto pouco ou nada ajudará a classe média. Estamos a falar de quantias simbólicas de alívio fiscal para os restantes cidadãos (meia dúzia de euros por ano, segundo li).

O princípio da medida está correcto? Julgo que sim. Da mesma maneira que os escalões de IRS são progressivos, pagando mais quem mais tem, não me parece estranho que quem mais tem beneficie de menos deduções.

Mas tem sido interessante acompanhar a “onda de revolta” que a medida tem gerado em alguns sectores. Confesso-me surpreendido por o argumento de Ferreira Leite sobre a questão de “como definir um rico?” ter tido tanta adesão.

Por exemplo, ontem no Eixo do Mal, ouvi Clara Ferreira Alves a protestar por mais esta taxação de cidadãos assalariados que auferem vencimentos justos fruto do seu trabalho. Uma injustiça perante esta classe média do país que, contrariamente a alguns, trabalha e não tem meios de escapar aos impostos.

A medida agora prometida por Sócrates pode ter todos os defeitos. Mas fazer dela um ataque às “pessoas honestas e trabalhadoras”, considerando vencimentos de 5000 € como de uma classe média igual a qualquer outra, parece-me anedotico É que, contrariamente ao que pensam alguns círculos, ganhar 5000 € por mês não é uma vergonha, mas também não é uma trivialidade.

Quem aufere 5000 € ganha mais do que cinco vezes o salário médio do país. Pode ser tudo, mas não pertence certamente a uma classe desfavorecida que está a ser atacada pelos malvados impostos do Estado. E afirmar isto não é recorrer ao populismo. Trata-se de afirmar uma evidência. A medida pode ser atacada por diversas razões. Mas esta última não é certamente uma delas.



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