O fim do jogo
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O fim do jogo


 

Tem um pensamento que me consola em casos de vexame, desgosto com a espécie humana, noticiário de Brasília ou derrota do Internacional. Penso: daqui a alguns milhões de anos o Sol vai explodir, a Terra vai virar cinza e nada disto terá muita importância.O perigo, claro, é o consolo se virar contra o consolado, pois, se pensar na nossa morte pessoal já nos angustia, pensar na morte de todo o sistema solar, ao qual somos tão ligados, pode angustiar mais. Mas é bom aceitar o risco da angústia terminal, botar tudo em perspectiva e ver nossos infortúnios num contexto maior. Em latim fica mais bacana: ‘Sub specie aeternitatis". Do ponto de vista da eternidade, como dizia o filósofo Espinosa, segundo o Google.
Do ponto de vista da eternidade tudo tem o mesmo sentido, ou sentido nenhum. Surpreende que a frase não seja invocada mais vezes, por exemplo, nas crises econômicas. Sob o ponto de vista da eternidade o carrossel das finanças, a gangorra dos juros e das dividas, o escorregador das falências nacionais e os balanços dos balanços não passam de brinquedos.
Tudo é um jogo que só é dramático e afeta a vida de tanta gente porque lhe dão um sentido falso que omite a explosão do Sol, no fim, quando até o ouro virará nada. O fim do jogo, para quem o leva a sério, é um mítico mundo com as economias equilibradas e o mercado redimido e triunfante. Não é. O fim do jogo é o nada.
Os "indignados" que protestam nas ruas da Europa contra as medidas de austeridade que exigem sacrifícios dos já sacrificados para corrigir a safadeza alheia, da minoria culpada pela crise internacional, estão dizendo isto, que a vida é mais importante do que o jogo, que nenhuma promessa de sanidade econômica a longo prazo compensa a miséria humana agora — ainda mais que a longo prazo seremos todos cinza.

E SE?
Já que falamos em vexame... Razão teve o Fernando Calazans, que sempre tem razão. E se os três substituídos pelo Mano Menezes, Neymar, Ganso e Pato, estivessem em campo para bater pênaltis, o resultado seria o mesmo? Nunca saberemos.



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