O Fundo Monetário Internacional (FMI) está de volta à linha de frente, em mais uma crise, para cumprir seu papel mais conhecido, a prestação de socorro a países com problemas de financiamento externo. Já acertou um empréstimo de US$ 2,1 bilhões à Islândia, negociou um acordo de US$ 16,5 bilhões com a Ucrânia, ainda sujeito, ontem, à aprovação pela diretoria executiva, e avançou na discussão de um programa com a Hungria. Além disso, a instituição examina possibilidades de auxílio a várias outras economias afetadas pelo tumulto financeiro internacional. O Fundo tem cerca de US$ 190 bilhões para uso imediato e pode, com a cooperação de alguns sócios, levantar mais uns US$ 50 bilhões, se for necessário. Passada a recessão de 2001, a economia mundial atravessou uma notável fase de prosperidade. A produção expandiu-se rapidamente e o comércio de bens e serviços cresceu com velocidade ainda maior. Durante esse período, o Fundo cuidou de uns poucos programas de ajuste, logo encerrados, e dedicou-se principalmente a ajudar economias muito pobres, com políticas de redução da miséria e de alívio da dívida externa. Com a crise de crédito, economias emergentes e em desenvolvimento voltaram a precisar de ajuda.
Desde o começo do ano o FMI tem socorrido países pobres afetados pela alta de preços dos alimentos e do petróleo. Em outubro, pouco antes da assembléia anual, a diretoria executiva reativou um procedimento simplificado e rápido para auxílio a emergentes. O ministro Guido Mantega, no entanto, julgou insuficiente essa medida. Durante a reunião, voltou a defender a criação de uma linha especial de financiamento para países com economias fundamentalmente saudáveis e com boas políticas, mas atingidos pela turbulência financeira. Seriam créditos volumosos, de fácil acesso e livres das condições que constam dos programas tradicionais de ajuste. Este seria um bom momento para se adotar uma inovação desse tipo, especialmente por causa das dificuldades de acesso ao mercado internacional de crédito. Mesmo bancos e empresas de economias fundamentalmente robustas, como a coreana e a brasileira, têm tido dificuldade para captar dinheiro no exterior.
A situação mais complicada, no entanto, é a das chamadas economias em transição ou ex-socialistas. Muitas delas acumulam há alguns anos déficits na conta corrente do balanço de pagamentos e algumas enfrentam fortes pressões inflacionárias. O FMI projetou para 2009 déficit em conta corrente de 8,6% do Produto Interno Bruto (PIB), em média, para as economias do Báltico. A projeção média é de um déficit de 5% para as da Europa Central e de 14% para as da Europa do Sul e Sudeste (no caso da Bulgária, o rombo pode chegar a 21,5%).
A Hungria, já em negociação com o Fundo, deve fechar 2008 com um buraco de 5,5% do PIB na conta corrente. Para o próximo ano, a previsão é de 6,1%. A inflação estimada não é desastrosa - 6,3% neste ano e 4,1% no próximo -, mas a combinação de preços em alta e desequilíbrio crescente nas contas externas pode ser muito ruim. Para a Ucrânia, as perspectivas também são preocupantes: déficit em conta corrente de 7,2% do PIB em 2008 e 9,2% em 2009, com inflação de 25,3% neste ano e 18,8% no próximo. De modo geral, os desajustes são consideráveis na maior parte da Comunidade de Estados Independentes (ex-União Soviética).
Os fundamentos da economia brasileira são invejáveis se comparados com os desses países. Poderão continuar invejáveis, se o governo tiver o bom senso de adaptar a política orçamentária às limitações de uma fase de crescimento econômico menor, de maiores dificuldades no comércio internacional e de acesso muito mais limitado às fontes externas de financiamento. Manter o crescimento a qualquer custo, com base no estímulo ao mercado interno, poderá ser desastroso, se resultar em maior pressão sobre o balanço de pagamentos. Esse caminho poderá conduzir às portas do FMI. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deveria menosprezar esse risco. Poderá, no entanto, cometer esse engano, se der atenção aos conselheiros menos sensatos. O número desses conselheiros aumentou perigosamente, em Brasília, desde a substituição de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda.
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