Silvia Rogar
Cezar Loureiro/ Ag. Globo |
NEM PARECE PRAIA |
Praias cercadas por montanhas tornam o Rio de Janeiro uma metrópole única. Nos fins de semana de sol, a orla fica tão apinhada que parece não haver outro programa na cidade. Com o passar das horas, porém, o cenário maravilhoso se esvai. Lá pelo início da tarde, no trajeto entre o calçadão e o mar, é grande a possibilidade de o banhista tropeçar numa casca de coco, pisar num palito de churrasco ou ter de espantar pombos que disputam restos de comida na areia. Os cariocas, é claro, culpam a prefeitura. Mas basta passar pelas praias no início ou no fim do dia, quando 200 garis estão em plena atividade, para ver que não é bem assim. Eles chegam a recolher 180 toneladas de sujeira na orla depois de um domingo de sol. Na semana passada, uma possível proibição da venda de coco, já descartada, trouxe à tona o cerne da questão: a limpeza da cidade é responsabilidade do governo, mas cabe à população preservá-la. O prefeito Eduardo Paes não economizou nas palavras. "As pessoas têm de ser menos porcas", disse.
O lixo jogado pelos cidadãos se espalha por toda a cidade. A Avenida Rio Branco, a principal via do centro do Rio, é varrida seis vezes por dia – e, ainda assim, está sempre suja. Diariamente, são recolhidas 3 500 toneladas de lixo das ruas cariocas, o que equivale a 590 gramas por habitante. Em São Paulo, são 2 970 toneladas por dia, ou 280 gramas por habitante. É menos da metade. "Esses dados mostram que o carioca é pouco educado quando descansa e quando trabalha", disse Paes a VEJA. O prefeito fez muito barulho ao anunciar medidas para conter a sujeira. O alarde valerá a pena, caso consiga diminuir a porqueira da cidade. Ele promete instalar painéis, batizados de lixômetros, nas 34 regiões administrativas do Rio, a partir de dezembro. O indicador mostrará se o lixo jogado na área aumentou ou diminuiu. Também serão instaladas mais lixeiras, destinadas aos 900 barraqueiros das praias.
A Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) teve orçamento de 800 milhões de reais em 2009 – cerca de 10% da receita da prefeitura carioca. O município ainda estuda outros estímulos, como baixar o IPTU da região que conseguir reduzir mais significativamente o lixo. Enquanto a sujeira não diminui, Paes promete: sem anunciar a data, vai suspender o trabalho dos garis na orla após um domingo de sol. Confrontados com o lixo que produzem, talvez os cariocas consigam melhorar suas maneiras. Em países como a Inglaterra, onde o grande problema das ruas são as pontas de cigarro, o governo é duro com os sujismundos. Cerca de 44 000 pessoas são processadas ou recebem anualmente algum tipo de penalidade por atirar lixo em lugares públicos.
Foto Uanderson Fernandes/Ag. O Dia |
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