O PIB subiu no telhado. E daí? VINÍCIUS TORRES FREIRE
Política

O PIB subiu no telhado. E daí? VINÍCIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SÃO PAULO - 01/06/11
"Dieta de emergência" tira quilinhos do PIB balofo, mas hábitos alimentares da economia ainda são ruins
CRÉDITO, gastos do governo, confiança de empresários e, se confirmou ontem, a indústria vão parando de crescer demais. Pelos dados do IBGE, a indústria cresceu em média 0,29% ao mês no último trimestre. A inflação vai diminuir, não sabemos quanto, talvez rodando a 5% no final do ano, o que não é bom, mas não é "descontrole inflacionário", como se dizia histericamente faz menos de um mês.
A indústria ainda deve apanhar mais, nos próximos meses. Um chute mais ou menos bem informado (por experiências passadas) diria que o aperto no crédito ainda está longe de ter estrangulado o que pode das encomendas à indústria, impacto que deve atingir seu pico lá por agosto. O câmbio parece ter feito estragos grandes, em particular na produção de têxteis, roupas, calçados e máquinas.
O crédito mais caro, que ainda vai encarecer, o endividamento (e a restrição que o Banco Central impôs e ainda vai impor ao endividamento das famílias), além do crescimento menor da renda dos salários, ainda vão tirar mais ar da indústria.
Ontem também saiu o resultado das contas do setor público (receita e despesa de governo federal, de estatais e de governos de Estados e de cidades). No ano, até abril, os governos pouparam o equivalente a 4,5% do PIB (é o superavit primário, receita menos gasto, afora despesas com juros da dívida pública).
No biênio 2009-10, o superavit havia sido de 3,3% do PIB. A despesa federal em relação ao tamanho da economia diminuiu (as contas são de economistas do Itaú).
É menos lenha na fogueira da economia também. Mas, nos anos de contenção de Lula (2003-2008), o superavit médio fora de 5,9%.
Ainda segundo o pessoal do Itaú, a despesa federal em investimentos caiu 24% nos últimos três meses; as administrativas, 4%. A receita continua crescendo muito bem.
Ou seja, o governo controlou uma expansão crítica dos gastos, ao menos arrefeceu um PIB exagerado.
Mas: 1) o controle é difícil e limitado, pois já havia muita despesa contratada por Lula; 2) faz um controle ruim como o de sempre: na hora do aperto, corta investimento, o que é possível fazer, dado o engessamento do gasto; 3) não tem quase folga para 2012, quando tende a haver grandes solavancos na despesa, como salário mínimo, os desperdícios olímpicos-futebolísticos etc.
E daí? Daí que todo esse aperto nas cravelhas é solução de curto prazo. Que, em 2012, não vai ser possível desapertar crédito e outros estímulos sem que reapareçam sinais de superaquecimento. Que vai ser difícil a economia crescer mais do que 4%. Que, no quadriênio 2009-2012, a economia pode ficar girando na faixa anual de 3,5% a 4%.
Não é horrível, claro, mas não é compatível com nossas ilusões de grandeza nem com as necessidades deste país ainda pobre e desigual.
Não vamos muito além se não pararmos de lidar apenas no curto prazo com problemas de contas públicas no limite, metas de inflação e inflação altas, juros e tributos loucos; para nem falar no nosso tradicional apego à ignorância, com horrível educação para o trabalho e desprezo por universidades e inovação.
Vamos empurrando tudo com a barriga até um evento-catástrofe nos chacoalhar, se tanto. Até quando a China for à breca ou der uma estremecida feia, talvez.



loading...

- Governo Poupa A Loteria Federal Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 30/08/11 Dilma toma a medida certa de poupar os excessos de receita, o que ajuda ainda na redução da taxa de juros O governo Dilma Rousseff resolveu enfim anunciar e assinar oficialmente um decreto, digamos, de controle adicional...

- Como Dilma Quer Investir? Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11Governo controla gastos, mas corta investimento; falta de planos limita ação privada na infraestrutura VAI DAR mais ou menos certo o plano do governo de conter o aumento de gastos neste ano. Vai dar ainda mais certo se...

- Vinicius Torres Freire Um Plano Em Busca De Dinheiro
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/02/11 No plano Dilma, metas não parecem ser compatíveis com as estimativas de receita e despesa públicas ECONOMISTAS de banco e consultorias revisaram para baixo suas projeções de crescimento neste 2011. Na média dos mais...

- Vinicius Torres Freire Gasto Público Em Ritmo Eleitoral
FOLHA DE S. PAULO Lula começa a dar primeiros sinais de que governo faz contas públicas pensando nos votos da eleição de 2010 NA SEMANA que passou, Lula provou uma receita de corte de gastos, oferecida por seus ministros. Mandou voltar o prato, com...

- A Porteira Aberta E O Mata-burro Autor(es): Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo - 15/04/2009   Governo deve poupar menos, renegocia dívidas, dá dinheiro a cidades e deve reduzir mais impostos sobre bens duráveis...



Política








.