Do blog do Alon:
Está bem perto a hora da verdade para a diplomacia brasileira na crise
do Irã. A estratégia de Luiz Inácio Lula da Silva e do Itamaraty
conduziu o Brasil para o centro da turbulência na disputa em torno do
programa nuclear iraniano. Agora é hora de pousar o avião.
Nossa chancelaria vem movida por dois vetores principais: reafirmar o
papel do Brasil como jogador global não alinhado aos Estados Unidos e
consolidar nossa presença naquela região, especialmente no comércio.
O paradoxo da situação já foi apontado aqui. O Brasil opõe-se às
sanções propostas pelos americanos para fazer o Irã desistir da bomba,
mas Lula só poderá declarar vitória num desfecho que contemple o
objetivo estratégico de Washington: a capitulação do Irã, com a
renúncia ao projeto bélico nuclear.
É situação complicada para a liderança iraniana. Uma demonstração de
fraqueza a esta altura revigoraria a oposição interna. Em caso de
rendição, os adversários certamente acusarão Mahmoud Ahmadinejad de
ter debilitado o país diante dos inimigos externos. E a luta interna
passaria mais rapidamente a outro patamar.
Enquanto simula condescendência com os movimentos diplomáticos
brasileiros, a diplomacia americana aperta os parafusos. Após uma
década de pressões políticas e ofensivas bélicas, falta a capitulação
do Irã para a pax americana vigorar do Paquistão ao Mediterrâneo.
Formalmente restam também a Síria e as facções mais fundamentalistas
da Palestina e do Líbano. Mas a eventual neutralização de Teerã teria
também o papel de empurrar os sírios à mesa de negociações, até por
falta de alternativa militar. Enfraquecendo por tabela o Hamas e o
Hezbollah.
Aliás, em nenhum outro momento os Estados Unidos tiveram sobre o
movimento nacional palestino a influência que têm hoje. Falta apenas
remover o vetor iraniano e controlar a variável síria. Difícil, mas em
processo.
Ahmadinejad e Lula entraram, portanto, num jogo complexo. O iraniano
foi inábil — ou lunático — ao ponto de colocar seu país à beira do
precipício. Onde Lula enxergou uma oportunidade de entrar para
estender a mão salvadora, buscando um belo troféu para a galeria.
A visita do presidente brasileiro a Teerã é nesse aspecto um gol, mas
será preciso esperar o resultado final do jogo. Para ver se Lula puxa
Ahmadinejad para cima, ou Ahmadinejad puxa Lula para baixo. Lula é o
portador de uma má notícia para Ahmadinejad, de que talvez o tempo
dele tenha se esgotado. Mas a má notícia pode não ser de todo ruim, se
a alternativa for perder o pescoço.