Política
O presidente nódoa limpa
A revisão da lei de financiamento dos partidos “abre a porta à pior das corrupções, ao mais alto nível”; e Cavaco aprovou-a sem pestanejar – “foi um dos seus dias mais negros de entendimento presidente-bloco central” (1). O que está em causa é a possibilidade dos dirigentes partidários poderem incluir nas despesas dos partidos as coimas a aplicar à ilegalidades praticadas (as que pela sua enormidade são descobertas). Em última análise, tal subversão permite que seja o erário público a pagar as infracções à lei com o próprio dinheiro dos contribuintes, que deste modo acabam por ser lesados duas vezes.
Cavaco: “
Há uma campanha suja e desonesta que quer envolver-me no caso BPN. Mas para serem mais honestos que eu têm de nascer duas vezes” - Sua excelência o dinossauro presidente não compreende que o problema não é ele analisado só por si, mas a clientela que o suporta. Cavaco sabe muito bem que
qualquer organização mafiosa que se preza se organiza
deixando sempre um deles de fora, imaculadamente limpo, que
dá a cara pelo grupo quando este enfrenta alguma adversidade.
Cavaco: “
Já não convivo com essas pessoas há mais de 25 anos”
Dias Loureiro foi removido a custo de conselheiro de Estado (nomeado por Cavaco) no ano de 2009. Em finais de 1997 o ex-secretário de Estado no governo de Cavaco Silva, Oliveira e Costa, percorreu o país angariando nos meios politico-financeiros cavaquistas fundos para a tomada de um banco especializado em investimentos especulativos. Para proteger os accionistas, o grupo criou
uma holding, a SLN-Valor, (é aqui que entram as acções de Cavaco), holding que não seria afectada caso o projecto corresse mal. Correu de facto mal (2).
Depois de alguns anos de regabofe especulativo (2006: 86 milhões de lucros, 77 milhões em 2007),. Em finais de 2008, descobertas as carecas das contabilidades criativas fraudulentas, os prejuízos ascendiam a 700 milhões de euros! (“
desaparecidos”
em paraísos fiscais). Como previsto, o Estado (via banco público CGD) interveio para salvar o mono falido e neste momento
a factura a pagar já vai em 4,8 mil milhões de euros. O famigerado orçamento de Estado para 2011 que Cavaco aprovou, consagra-lhe mais uma injecção de 500 milhões. É deveras pornográfico que, no debate com Alegre, Cavaco tivesse afirmado não ter conhecimento disto
Dizem economistas de vários quadrantes que ainda faltam contabilizar 2 mil milhões de “activos tóxicos”, ou seja,
lixo que vai ser pago pelos contribuintes. Tudo somado, termos 7,7 milhões de euros (3) a distribuir pelos anos vindouros, quase 5 por cento do PIB português.
Com outro presidente que não pactuasse com a fraude, Portugal não precisaria de nenhum plano de austeridade e Sócrates já teria sido corrido em seu devido tempo.
(1) João Cravinho, autor de uma proposta de lei contra a corrupção na anterior legislatura que foi rejeitada na AR pelo PS
(2)
António Vilarigues: “
A pulhice humana revisitada”
(3) O salvado do BNP tem uma base de licitação para venda de 180 milhões de euros, mas não tem compradores interessados
(4) As citações dos recortes de jornal são de António Martins, presidente da Associação Sindical de Juízes Portugueses
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