O sonho americano nas mãos de Obama: Isabel Fleck
Política

O sonho americano nas mãos de Obama: Isabel Fleck


Obama renova o sonho por um mundo melhor



Correio Braziliense - 20/01/2009
Primeiro líder afro-americano do país toma posse hoje como 44º presidente com os objetivos de “renovar a promessa” da nação e restaurar a confiança da população


Barack Obama ajuda a pintar a parede de abrigo para crianças carentes, em Washington: serviço voluntário na véspera de se tornar presidente
O dia em Washington começará mais cedo hoje. A partir das 7h (10h de Brasília), centenas de milhares de pessoas já deverão estar nas ruas à procura de um bom lugar para assistir à posse do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. A expectativa é de que Barack Obama atraia cerca de 2 milhões de admiradores para o National Mall, onde ocorrerá o juramento do novo presidente e seu aguardado discurso. Às vésperas do grande evento, Obama prestou serviço voluntário, visitou um hospital militar e causou ainda mais expectativas ao jurar “renovar a promessa” do país.

“Amanhã (hoje), vamos nos unir, como um só povo, na mesma esplanada onde o sonho de Martin Luther King ainda ecoa. Por isso mesmo, reconhecemos que aqui, na América, nossos destinos estão intrinsecamente ligados. Percebemos que devemos andar juntos”, declarou Obama, em referência ao dia de homenagens ao ativista negro, celebrado ontem. “Estamos determinados a avançar juntos. Ao buscar renovar a promessa deste país, lembremo-nos da lição de King: os sonhos de cada um de nós formam na verdade apenas um”, completou.

O presidente eleito aproveitou ainda o simbolismo do feriado do Dia Nacional do Serviço Comunitário para demonstrar que está pronto a “servir” o país. Primeiro, visitou soldados feridos no Centro Médico Walter Reed das Forças Armadas, nos subúrbios de Washington — local que ficou conhecido em 2008 pelas denúncias de falta de estrutura e negligência com os pacientes. Depois, foi a vez de Obama arregaçar as mangas da camisa social para pintar de azul a parede do Sasha Bruce, um abrigo para jovens e moradores de rua na periferia da capital.

Seu vice, Joe Biden, também não teve descanso. Ele participou da preparação de almoço para famílias carentes nos arredores de Washington. A primeira-dama, Michelle, e a esposa de Biden, Jill, marcaram presença ainda em um baile de caridade para crianças. As filhas do casal Obama, Natasha (Sasha) e Malia, acompanharam os pais em alguns dos cerca de 10 mil atos de trabalho social realizados em todo o país. O presidente eleito encerrou o dia anterior à posse jantando com o antigo rival, John McCain, e o ex-secretário de Estado Colin Powell — ambos republicanos.

Expectativa
Muitos americanos aproveitaram o feriado de ontem para visitar o local onde Obama fará história hoje. A área em frente ao Capitólio foi tomada por admiradores do futuro presidente, numa espécie de festa antecipada. Sobre o histórico discurso, assessores próximos revelaram que Obama vai se concentrar em temas como responsabilidade e a necessidade de restaurar a confiança da população. De acordo com Robert Gibbs, o próximo secretário de imprensa da Casa Branca, o discurso foi escrito pelo próprio presidente no último fim de semana.

Antes de pronunciá-lo, Obama terá de cumprir um extenso protocolo. Pela manhã, ele e Michelle sairão da Blair House, residência para os hóspedes da presidência, onde eles estão desde o último sábado, para participar de uma cerimônia religiosa na tradicional St. John’s Episcopal Church. Depois, o casal — com Joe e Jill Biden — será recebido pela última vez por Bush na Casa Branca. Todos vão juntos para o palanque em frente ao Congresso, onde a cerimônia começará às 11h30 (14h30 em Brasília). O juramento será feito sobre a mesma Bíblia utilizada por Abraham Lincoln, seguido pelo discurso do novo presidente.

Obama e sua família participarão de um almoço com os congressistas no Capitólio, onde será servido um cardápio inspirado no ex-presidente Lincoln, à base de sopa de marisco, faisão e torta de maçã. O evento oficial será encerrado com um desfile, em carro fechado, pela Avenida Pensilvânia até a nova residência. Barack Obama nem mesmo deve fazer todo o percurso com a janela de sua limosine blindada aberta. Tudo para garantir que ele chegue onde é o seu lugar por direito: a Casa Branca.

Gabinete será o mais diversificado da história


Quatro negros, dois hispânicos, cinco mulheres. O gabinete do novo presidente dos Estados Unidos será o mais diversificado da história do país. No círculo mais próximo a Barack Obama estarão ainda dois republicanos, argumento usado pelo próprio líder para demonstrar que fará um governo apartidário. Do grupo que por décadas ocupou a quase totalidade dos principais cargos em Washington — homens brancos —, só restarão sete no mandato de Obama. Segundo o próximo governo, as escolhas não foram motivadas pela intenção de agradar os diversos grupos de eleitores que votaram no democrata, mas pelo currículo de cada um deles.

“A busca pela diversidade não era a principal motivação”, garantiu o chefe de gabinete da Casa Branca, Rahm Emanuel. O importante, de acordo com ele, era conseguir “uma grande equipe de gente com experiência, tanto no terreno político como no momento de tomar decisões”. Entretanto, Obama sabe o quanto é importante ter representantes das diversas comunidades ao seu lado. Os latinos, por exemplo, o ajudaram a se eleger em estados como Colorado, Nevada e Novo México, conquistados por George W. Bush em 2004. Nestas eleições, pela primeira vez, grupos de afro-americanos se mobilizaram para comparecer em massa às urnas — apoio que o presidente eleito também não pode esquecer.

Hispânicos
Entre os hispânicos escolhidos, estão os secretários do Trabalho, Hilda Solís, e do Interior, Ken Salazar. A comunidade latina espera que a vaga deixada pelo governador do Novo México, Bill Richardson, que desistiu do cargo de secretário de Comércio por causa de uma investigação federal, seja preenchida por outro hispânico. Os negros estarão representados pelo secretário de Justiça, Eric Holder, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas (ONU), Susan Rice, o representante de Comércio Exterior, Ron Kirk, e a responsável pela Agência de Proteção do Meio Ambiente, Lisa Jackson.

Além de Hilda, Susan e Lisa, a governadora do Arizona, Janet Napolitano, e a ex-primeira-dama Hillary Clinton integrarão a ala feminina do gabinete, nos cargos de secretárias de Segurança Nacional e de Estado, respectivamente. Para Bonnie Erbe, colunista do jornal US News, o número de mulheres no governo deveria ser ainda maior. “No começo de seu governo, Bush nomeou quatro mulheres para seu gabinete. Bill Clinton convidou cinco mulheres, e George H. W. Bush e Ronald Reagan, duas. Obama não avançou nisso.”

Obama terá a missão de equilibrar os egos entre a equipe formada por intelectuais da Ala Oeste da Casa Branca e o seu executivo. Os chefes de gabinete podem acabar competindo pela simpatia do presidente com seus assessores. “O presidente se cercou de personalidades que podem expressar vigorosamente suas eventuais divergências. (…) Tudo dependerá das relações estabelecidas entre os secretários e os funcionários da Casa Branca”, afirma o especialista William Galston, do Instituto Brookings.



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