FOLHA DE SP - 16/11
O abismo fiscal nos EUA está provocando a queda acentuada dos preços das ações no mundo todo
Nos últimos 30 dias, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York caiu mais de 6%. O Ibovespa perdeu, neste mesmo período, mais de 5,5% e, no ano de 2012, já está dando um prejuízo de quase 1% aos investidores que acreditaram no mercado de ações brasileiro.
Esse recente movimento brusco de queda das ações nas Bolsas de Valores ao redor do mundo está associado ao que se chama hoje de abismo fiscal nos Estados Unidos e que representa o último grande medo dos mercados em 2012.
O ano que se encerra foi povoado por fantasmas econômicos assustadores e que levaram a uma redução dos investimentos em escala global.
O colapso do euro, depois da crise política na Grécia em março passado, dominou o imaginário dos investidores por mais de seis meses.
Paralelamente a isso, desenvolveu-se nos mercados a teoria de que o modelo de crescimento da China estava esgotado e que ocorreria uma recessão no país asiático, com efeitos deletérios sobre o mundo emergente. O cenário de caos estava completo -mundo rico e os emergente juntos na crise-, e o medo do futuro incorporou-se na grande maioria das direções das empresas em todo o mundo.
Somente com a intervenção decisiva do Banco Central Europeu uma espiral psicológica destrutiva que se criava foi interrompida e um pouco de bom senso e racionalidade voltaram a comandar as decisões econômicas nos últimos meses.
Mais recentemente, a economia chinesa vem dando sinais de normalização. Mas o estrago sobre a dinâmica dos investimentos privados já estava feito, e o ano de 2012, perdido para o crescimento.
Transcrevo um comentário que faz parte do último relatório da empresa de consultoria Macroeconomic Advisors sobre a economia norte-americana.
"Apesar da redução das incertezas associadas à crise do euro e evidências de que a confiança do consumidor nos Estados Unidos e seus gastos melhoraram nos últimos meses, a fragilidade recente do comportamento dos investimentos privados aumentou nossos medos de que a falta de confiança entre os empresários em seus negócios vai atrasar a recuperação econômica."
Essa observação pode ser aplicada a outras economias importantes, como mostram os dados mais recentes do Japão. No país do sol nascente, a economia voltou a se contrair no terceiro trimestre deste ano, principalmente em razão da redução do investimento privado.
Da mesma forma, o crescimento econômico do Brasil continua a ser revisto para baixo e a redução dos investimentos privados é claramente o grande fator por trás disso.
Por essa razão é que esta nova fonte de risco e incerteza -o ajuste fiscal já contratado para o início do ano que vem nos Estados Unidos- está provocando a queda acentuada dos preços das ações no mundo todo e uma nova corrida aos títulos de renda fixa.
Se os dois polos políticos no Congresso americano não conseguirem um acordo para refazer o programa de ajuste de longo prazo das contas fiscais, a maior economia do mundo vai sofrer um novo choque deflacionário e, certamente, entrar em um novo mergulho na recessão.
Em um mundo já fragilizado pelas crises na Europa e no Japão, a recessão americana traria consequências terríveis mesmo para países que, como o Brasil e a China, têm uma demanda interna sólida.
Por isso, a queda do valor das ações que está acontecendo nos quatro cantos do mundo tem uma forte razão para ocorrer.
Mas o leitor da Folha deve entender que esse comportamento do investidor global está centrado na hipótese de que não haverá acordo político no Congresso americano.
Eu, particularmente, não creio nisso e tenho minhas razões objetivas para tal. Os políticos, em todo o mundo, adoram chegar perto de um abismo, seja ele político, seja econômico, mas sempre se acomodam na última hora para não cair nele.
Por essa razão, apesar da irracionalidade política de parte do Partido Republicano, acredito que, no final, um acordo -mesmo que provisório- vai ser conseguido, e o abismo fiscal, evitado.
E, se estiver certo, os mercados de ações vão recuperar rapidamente todas as perdas recentes.
O abismo fiscal nos EUA está provocando a queda acentuada dos preços das ações no mundo todo
Nos últimos 30 dias, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York caiu mais de 6%. O Ibovespa perdeu, neste mesmo período, mais de 5,5% e, no ano de 2012, já está dando um prejuízo de quase 1% aos investidores que acreditaram no mercado de ações brasileiro.
Esse recente movimento brusco de queda das ações nas Bolsas de Valores ao redor do mundo está associado ao que se chama hoje de abismo fiscal nos Estados Unidos e que representa o último grande medo dos mercados em 2012.
O ano que se encerra foi povoado por fantasmas econômicos assustadores e que levaram a uma redução dos investimentos em escala global.
O colapso do euro, depois da crise política na Grécia em março passado, dominou o imaginário dos investidores por mais de seis meses.
Paralelamente a isso, desenvolveu-se nos mercados a teoria de que o modelo de crescimento da China estava esgotado e que ocorreria uma recessão no país asiático, com efeitos deletérios sobre o mundo emergente. O cenário de caos estava completo -mundo rico e os emergente juntos na crise-, e o medo do futuro incorporou-se na grande maioria das direções das empresas em todo o mundo.
Somente com a intervenção decisiva do Banco Central Europeu uma espiral psicológica destrutiva que se criava foi interrompida e um pouco de bom senso e racionalidade voltaram a comandar as decisões econômicas nos últimos meses.
Mais recentemente, a economia chinesa vem dando sinais de normalização. Mas o estrago sobre a dinâmica dos investimentos privados já estava feito, e o ano de 2012, perdido para o crescimento.
Transcrevo um comentário que faz parte do último relatório da empresa de consultoria Macroeconomic Advisors sobre a economia norte-americana.
"Apesar da redução das incertezas associadas à crise do euro e evidências de que a confiança do consumidor nos Estados Unidos e seus gastos melhoraram nos últimos meses, a fragilidade recente do comportamento dos investimentos privados aumentou nossos medos de que a falta de confiança entre os empresários em seus negócios vai atrasar a recuperação econômica."
Essa observação pode ser aplicada a outras economias importantes, como mostram os dados mais recentes do Japão. No país do sol nascente, a economia voltou a se contrair no terceiro trimestre deste ano, principalmente em razão da redução do investimento privado.
Da mesma forma, o crescimento econômico do Brasil continua a ser revisto para baixo e a redução dos investimentos privados é claramente o grande fator por trás disso.
Por essa razão é que esta nova fonte de risco e incerteza -o ajuste fiscal já contratado para o início do ano que vem nos Estados Unidos- está provocando a queda acentuada dos preços das ações no mundo todo e uma nova corrida aos títulos de renda fixa.
Se os dois polos políticos no Congresso americano não conseguirem um acordo para refazer o programa de ajuste de longo prazo das contas fiscais, a maior economia do mundo vai sofrer um novo choque deflacionário e, certamente, entrar em um novo mergulho na recessão.
Em um mundo já fragilizado pelas crises na Europa e no Japão, a recessão americana traria consequências terríveis mesmo para países que, como o Brasil e a China, têm uma demanda interna sólida.
Por isso, a queda do valor das ações que está acontecendo nos quatro cantos do mundo tem uma forte razão para ocorrer.
Mas o leitor da Folha deve entender que esse comportamento do investidor global está centrado na hipótese de que não haverá acordo político no Congresso americano.
Eu, particularmente, não creio nisso e tenho minhas razões objetivas para tal. Os políticos, em todo o mundo, adoram chegar perto de um abismo, seja ele político, seja econômico, mas sempre se acomodam na última hora para não cair nele.
Por essa razão, apesar da irracionalidade política de parte do Partido Republicano, acredito que, no final, um acordo -mesmo que provisório- vai ser conseguido, e o abismo fiscal, evitado.
E, se estiver certo, os mercados de ações vão recuperar rapidamente todas as perdas recentes.