Política
OAB critica Lula por comparar dissidentes cubanos a bandidos
RIO - A entrevista em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou dissidentes cubanos a bandidos em São Paulo foi condenada, nesta quarta-feira, em nota da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e provocou polêmica até no PT. Enquanto o deputado petista Maurício Rands (PE) afirmou que o "presidente se expressou mal ou foi mal entendido", o presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, foi duro e classificou as declarações de Lula como "uma comparação despropositada".- A comparação é despropositada, pois tenta banalizar um recurso extremo que é, ao mesmo tempo, um símbolo de resistência a um regime autoritário que não admite contestações - afirmou Ophir, acrescentando que "mais razoável seria se o governo brasileiro se preocupasse com as péssimas condições carcerárias a que estão submetidos" os presos brasileiros.A comparação é despropositada, pois tenta banalizar um recurso extremo que é, ao mesmo tempo, um símbolo de resistênciaComentando o caso de presos cubanos que entraram em greve de fome para protestar contra o governo castrista, Lula defendeu , em entrevista na terça-feira à agência de notícias AP, que sejam respeitadas as decisões da Justiça cubana em relação aos presos políticos que entraram em greve de fome no país, um dos quais acabou morrendo.- Eu penso que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagina se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade - declarou. - Temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano, de deter as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem ao Brasil.Nós não aceitamos que alguém seja detido apenas por ter divergências com o governoO deputado Maurício Rands defendeu Lula afirmando que "é claro que ele compreende a diferença entre um preso político e um preso comum".- Nós inclusive não aceitamos que alguém seja detido apenas por ter divergências com o governo, sem ter cometido algum crime - acrescentou Rands em entrevista à TV Globo.As declarações de Lula já haviam provocado reações de parlamentares da oposição. Para o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), Lula foi oportunista ao "comparar alhos com bugalhos".- O Brasil tem que ser contra a prisão política. Todo o esforço do país em ter uma política externa de relevo vai por água abaixo com esse discurso do presidente - acrescentou o deputado Emanuel Fernandes (PSDB-SP).
Em visita a Havana no dia em que o dissidente cubano Orlando Zapata Tamayo morreu após quase três meses sem comer, o presidente já havia criticado o uso da greve de fome para pressionar o governo. Ao lado de Lula, o presidente cubano Raúl Castro lamentou a morte do dissidente, afirmando que "era resultado da relação com o Estados Unidos" e garantindo que o dissidente não foi torturado porque essa prática "não existe em Cuba".A oposição cubana luta agora para salvar a vida do dissidente Guillermo Fariñas, que no dia seguinte à morte de Zapata começou uma greve de fome, na cidade de Santa Clara. Em reação a Fariñas, que está sem comer há duas semanas, o jornal oficial "Granma" afirmou que o governo cubano não aceita "chantagens". O dissidente recusou uma proposta de um diplomata espanhol que o informou da decisão do governo cubano de permitir sua viagem à Espanha. Ele insistiu que seria melhor liberar os presos políticos doentes no país.
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