Política
Os alertas do FMI - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 17/07Ninguém deve enganar-se com o aparente otimismo do Fundo Monetário Internacional (FMI) em suas novas projeções de crescimento global - 3,5% neste ano e 3,9% em 2013, números bem próximos daqueles divulgados em abril. Muito mais importante que essas projeções é a mensagem aos políticos: o resultado efetivo será muito pior se os governos falharem nas medidas para destravar a economia na zona do euro, reanimar os países emergentes e evitar um desastre nos Estados Unidos. A adoção dessas medidas é um pressuposto das novas previsões, mas os números são acompanhados de advertências bem claras. Não há dúvida sobre o empenho do governo da China, o maior dos emergentes, para evitar uma desaceleração abrupta. As autoridades chinesas já cortaram os juros, criaram facilidades para a expansão do crédito e reduziram impostos para atrair o investidor estrangeiro. Na Europa, no entanto, é preciso avançar nas ações de fortalecimento dos bancos, de apoio aos governos endividados e de abertura de espaço para maior crescimento. Nos Estados Unidos, o impasse político em torno do orçamento e da política de ajuste é a principal fonte de risco.Os europeus têm dado passos na direção certa, mas falta, segundo os autores do relatório, avançar na unificação da política bancária para a zona do euro, na integração das políticas orçamentárias e num apoio mais amplo aos países da chamada periferia do euro. É necessário, disse o economista-chefe do FMI, garantir ajuda tanto à Espanha quanto à Itália, para facilitar o financiamento de suas contas públicas.O ajuste fiscal avança em ritmo satisfatório na maior parte da zona do euro, segundo os especialistas do FMI, mas um aperto excessivo poderá agravar as dificuldades econômicas e a própria recuperação dos orçamentos. A adoção de medidas para combinar ajuste de longo prazo e crescimento depende, no entanto, de um acerto político entre os governos mais influentes. Diplomaticamente, os técnicos e diretores do FMI evitam detalhes, mas o recado é em boa parte dirigido às autoridades alemãs, principais defensoras de uma austeridade fiscal sem concessões. Para a zona do euro as projeções indicam uma contração de 0,3% neste ano e uma expansão de 0,7% no próximo.No caso dos Estados Unidos, o crescimento previsto para este ano, de 2%, é apenas 0,1 ponto inferior ao projetado em abril. Para 2013 foi estimada uma expansão de 2,3%, mas com uma ressalva assustadora. Sem um acordo político, cortes temporários de impostos serão eliminados automaticamente, despesas serão contidas de forma abrupta e a redução do déficit público será equivalente a 4 pontos de porcentagem do PIB - uma enormidade. A consequência será um violento freio na economia, com impactos em todo o mundo. Não se menciona o vilão da história, mas obviamente se trata da oposição republicana, empenhada em travar todas as medidas de estímulo à economia americana.Para os emergentes está previsto crescimento de 5,6% em 2012, com aceleração para 5,9% em 2013. Os números são menores que os estimados em abril, mas o cenário ainda inclui expansão de 8% para a China e de 2,5% para o Brasil - talvez a mais otimista das projeções. No caso da China, o risco maior é uma freada brusca nos investimentos.Os emergentes, segundo o relatório, vêm crescendo há alguns anos acima de seu potencial, em parte graças à expansão do crédito e ao desenvolvimento do setor financeiro. Como resultado, a expansão desses países, no médio prazo, pode ser menor do que se vinha estimando. A exposição se detém neste ponto, sem mais detalhes sobre cada caso. Mas o comentário, pode-se acrescentar, aplica-se muito bem ao Brasil, onde o debate sobre o potencial de crescimento é especialmente oportuno. O potencial brasileiro, segundo algumas estimativas respeitáveis, deve estar na faixa de 3,5% a 4% ao ano. Esse limite só será ultrapassado por meio de investimentos maiores, com enfoque mais cuidadoso e realizados com maior eficiência. Sem isso, a economia poderá crescer mais rapidamente em alguns períodos, mas a expansão acima do potencial acabará resultando em desajustes graves, como pressões inflacionárias e rombos nas contas externas.
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