Thomaz Favaro
Toby Talbot/AP | Muhannad Fala'Ah/Getty Images |
CONFLITO DE INTERESSES Campo de petróleo no Curdistão: intermediação pode render 100 milhões de dólares |
Os adeptos de teorias da conspiração, à esquerda e à direita, acreditam fervorosamente que todo e qualquer movimento dos Estados Unidos no Oriente Médio tem por objetivo o petróleo. Como os relógios quebrados, os conspiracionistas às vezes acertam. O alvo involuntário do momento é o diplomata americano Peter W. Galbraith, recentemente alçado a herói dos obamistas mais entusiasmados por denunciar as fraudes generalizadas na reeleição do presidente do Afeganistão, Hamid Karzai. Por ter falado muito publicamente a respeito, contrariando os requisitos do cargo, perdeu o posto de o segundo principal representante da ONU no Afeganistão. A aura de herói pacifista durou pouco, destruída pela atuação de Galbraith em outro lugar encrencado, o Iraque. Ao longo de muitos anos, o diplomata foi um dos mais ardorosos paladinos da minoria curda no Iraque. Durante o regime de Saddam Hussein, denunciou as atrocidades cometidas contra os curdos. Depois da invasão do Iraque, em 2003, ele já não tinha função oficial, mas apareceu no país na condição de assessor do principal partido curdo. Defensor do separatismo pouco disfarçado dessa minoria, conseguiu emplacar na nova Constituição iraquiana amplos direitos de autonomia, incluindo o controle sobre as reservas de petróleo. Pronto, chegamos ao que interessa: soube-se agora que ele tinha uma empresa (nome em inglês: Porco Espinho) que intermediou a exploração de um campo de petróleo no Curdistão para a petrolífera norueguesa DNO. Em troca, recebeu 5% de participação no investimento.
O negócio pode render a Galbraith 100 milhões de dólares, nas estimativas mais conservadoras, mas está enrolado. Galbraith, que é casado com uma norueguesa e mora atualmente no país, está processando a DNO por ter renegociado o contrato com o governo central do Iraque. Depois que o caso veio à tona, admitiu tudo, mas garantiu que não existe conflito de interesses. Há pouco ou nenhum ânimo investigativo nas fileiras do Partido Democrata, no qual ele tem estirpe nobre: é filho do economista John Kenneth Galbraith, um dos formuladores do New Deal e ícone dos velhos e novos keynesianos. Seu irmão, James, integra a equipe econômica do presidente Barack Obama. Galbraith era da turma do diplomata Richard Holbrooke, ligado ao governo Clinton, durante o qual foi embaixador na Croácia. Como partidário da causa curda, perfeitamente defensável, propugnou a partilha do Iraque que redundaria num país independente, o Curdistão – anátema para os nacionalistas iraquianos. No atual governo, Holbrooke é enviado especial de Obama ao Afeganistão e Galbraith tinha sido nomeado para a missão da ONU no país. Por isso, a denúncia muito pública de fraude eleitoral soou como um recado a Karzai ou uma sondagem preparatória, caso prevaleça no governo Obama a tese de que os Estados Unidos devem diminuir, em lugar de aumentar, o número de tropas e eventualmente cair fora. Ou talvez Galbraith estivesse apenas vislumbrando novas oportunidades de negócios