Bandidos a bordo
Piratas somalis, que infestam a costa da África, vão longe
demais ao tomar cargueiro cheio de armas e tanques
Duda Teixeira
AP |
ASSALTANTES As lanchas dos piratas ao lado do Faina,cuja carga inclui 33 tanques de guerra: resgate de 20 milhões de dólares |
Um dos pontos mais perigosos para a navegação marítima são as águas do Chifre da África. Só neste ano mais de sessenta embarcações foram abordadas e seqüestradas por piratas somalis que operam na rota pela qual trafegam 20 000 navios por ano. Os ataques estavam sendo mais ou menos tolerados até que os bandidos se apoderaram do cargueiro ucraniano Faina, em 25 de setembro. A carga do navio – canhões antiaéreos, lançadores de granada e 33 tanques russos T-72, destinados ao Quênia – obrigou o mundo a prestar atenção à forma pela qual a anarquia na Somália transbordou para o mar. Na sexta-feira, o Faina estava à vista de navios de guerra de vários países, mas os seqüestradores foram irredutíveis. Em geral, o resgate de uma embarcação é de 1 milhão de dólares. Desta vez, pediram 20 milhões de dólares.
Os piratas são antigos pescadores que descobriram a pilhagem marítima quando a Somália, sem governo central desde o início dos anos 90, mergulhou no caos. Quando avistam um navio de carga, os criminosos se aproximam em lanchas rápidas e lançam granadas na sala de controle. Em metade dos ataques, eles conseguem fazer com que a embarcação reduza a velocidade. Então, escalam com cordas o casco e aprisionam a tripulação. "Em linhas gerais, é a mesma técnica dos piratas de séculos atrás", disse a VEJA o indiano Pottengal Mukundan, diretor do Escritório Marítimo Internacional, sediado em Londres, que monitora as atividades dos piratas. A única saída para os proprietários dos navios é pechinchar o valor do resgate. "Para os piratas, é uma operação de risco nulo e retorno máximo", diz Mukundan. Estima-se em 15 bilhões de dólares por ano as perdas provocadas pela pirataria em todo o mundo.
Pôr certa ordem nas águas africanas é uma tarefa que pode ser cumprida se houver coordenação entre países com poderio naval. Mais difícil é resolver o problema pela raiz: a anarquia na Somália. Com seus clãs e milícias islâmicas em pé de guerra, o país é uma encrenca da qual todos querem distância.