Paradoxal, mas pouco
Política

Paradoxal, mas pouco


É consensual constatar-se que José Sócrates atravessa hoje o pior momento desde a sua ascensão em 2005. Com os casos que continuam a somar-se em seu redor, com a demonstração de que mentiu perante o parlamento, com uma comissão de inquérito a caminho e com o aumento do esforço fiscal da maioria dos portugueses inscrito no Programa de Estabilidade e Crescimento (depois de se ter garantido que tal não viria a acontecer), Sócrates tem todas as razões para estar preocupado. Os tempos estão mais complicados do que nunca.

Paradoxalmente, em total contramão com o forte desgaste de que tem sido alvo o Executivo, algumas sondagens nos últimos dias continuam a dar uma folgado score aos socialistas (ver DN da passada sexta-feira ou o Expresso desta semana). Algumas apontam até que, se existissem hoje eleições, os socialistas teriam um resultado muito próximo da maioria absoluta. Mas como é possível que, num momento de tamanho desgaste, as intenções de voto continuem a ser tão favoráveis ao PS? Como é possível que no pior momento do seu percurso, as sondagens continuem a pintar um cenário cor-de-rosa?

Podem ser diversas as explicações para tal fenómeno. Comecemos por uma com contornos exóticos e que se reflectiu particularmente numa sondagem publicada no Público de 5 de Março. Apesar da maioria dos portugueses estar convencida que o primeiro-ministro mentiu quando afirmou o seu desconhecimento sobre o negócio da TVI, e da maioria considerar injustificável tal mentira, a maioria continua a desejar a sua continuidade. No fundo, a estabilidade governativa afirma-se como valor primordial, sobrepondo-se a valores como a credibilidade ou a confiança. Um posicionamento que nos faz recordar o fenómeno berlusconiano. Apesar dos sucessivos escândalos e de reconhecerem a seriedade duvidosa do seu primeiro-ministro, os italianos continuam a preferir que continue no cargo.

Por outro lado, não menos importante para os resultados ainda tão favoráveis ao PS é o estado debilitado em que se encontra o seu principal adversário. O PSD está decapitado desde Outubro. Há cinco meses que não possui um rosto que se apresente como alternativa ao actual primeiro-ministro. Há cinco meses que tem estado centrado em si próprio. Deste ponto de vista, se calhar os resultados que lhe vêm sendo atribuidos até nem são tão maus quanto isso. Pelo contrário, podem ser indicativos de que o PSD está muito mal, mas os socialistas não podem respirar de alívio.

E assim acontece porque os dois pressupostos acima apontados para justificar os bons scores do PS nas sondagens – desejo de estabilidade governativa e estado lastimável do PSD – poder-se-ão alterar muito rapidamente. É sabido que o poder em democracia normalmente não se ganha, perde-se. Mas para que tal se verifique, para que o forte desgaste de quem governa se torne fatal e para que outros valores se sobreponham à estabilidade governativa, é obviamente necessário que o partido que costuma alternar no poder dê alguns sinais de vida.

Ora, depois de tantos anos de travessia no deserto, parece difícil acreditar que o PSD possa já constituir-se como alternativa aos olhos do eleitorado. Mas elegendo agora um líder que consiga obter o mínimo de respeito por parte das diversas tendências internas, é fortemente provável que tal venha a acontecer. E mais: se apenas conseguir permanecer de braços estendidos, não é de excluir que o poder lhe possa cair nas mãos a curto/médio prazo. Paradoxal? Sim, mas não tanto quanto à primeira vista podia parecer.
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Artigo publicado ontem no Açoriano Oriental
(Imagem: Paradoxal.net)



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