Política
Participação sim, mas com respeitinho...
Por falta de disponibilidade, não tenho aqui escrito sobre as manifestações no Rossio do movimento Democracia Verdeira Já e das reacções que as mesmas têm gerado. Confesso-me estupefacto por ver tanta direita dita arejada mas também diversos sectores da esquerda a escarnecer tão abertamente o que ali se tem passado. Vi comentários a dizer que se tratavam de meninos que deviam era estar em casa a jogar playstation. Vi gente a chamar de inúteis e porcalhotos quem por lá se fixou. Vi até gente a esboçar um sorriso com a intervenção policial que se verificou no dia anterior às eleições.
Não querendo simplificar em demasia, apenas digo que é hoje um lugar comum dizer-se que os jovens não participam, que os jovens não se importam, que os jovens não querem saber. Muitas vezes tal é feito recordando com respeito o activismo da geração de Abril, da geração que combateu a ditadura, da geração que fez o Maio de 68. Curiosamente, são também muitas as figuras que, encaixando-se neste perfil de pensamento, são os primeiros a desvalorizar quem decidiu acampar no Rossio pedindo (vejam só que tolice…) “mais democracia”. Que horror… Como se atrevem a ocupar pacificamente e sujar uma praça para pedir tal disparate?
Podemos simpatizar mais ou menos com determinadas formas de participação política. Podemos considerar que a democracia deve ser mais participativa ou que deve ser sobretudo canalizada para os modelos de participação institucionais (voto, participação em partidos, etc). Podemos querer tomar parte na discussão pública ou querer assumir um papel menos activo. Qualquer opção acima é legítima. Mas daí a escamotear e denegrir algo totalmente pacífico, com contornos genuínos em torno do ideal da democracia, revela uma incómoda pequenez.
(Imagem: Barra da Tijuca)
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