Pecados capitais Celso Ming
Política

Pecados capitais Celso Ming


ESTADAO

A sucessão de resultados medíocres do PIB e de inflação alta demais (à altura dos 6,0% ao ano) ao longo do governo Dilma não pode ser atribuída à crise global, como alega o ministro Guido Mantega.

Esta é, em si mesma, uma alegação incoerente. Se a situação externa tivesse tanta influência, a inflação estaria em torno de zero, como lá. E reclamar da desaceleração do crédito não tem pé nem cabeça. Não é também esse efeito que procura uma política monetária restritiva, como a de hoje?

A má condução da economia, num cenário externo desfavorável, é verdade, mas marcada por escolhas equivocadas, é a única explicação para essa cadeia de frustrações.

A desarrumação começou ainda em 2011, quando o governo Dilma pretendeu ativar o avanço econômico com uma política fiscal frouxa e derrubada acentuada dos juros (até abril de 2013), acompanhada de uma política de desvalorização da moeda (alta do dólar), para ativar o consumo.

A justificativa para esse arranjo foi a de que se precisou montar uma política econômica contracíclica para enfrentar a estagnação. Até mesmo os pressupostos da manobra são equivocados. Não basta estimular o consumo com mais despesas públicas e juros artificialmente achatados, num quadro de baixa competitividade da indústria. O aumento da demanda passou a ser atendido com mais importações e, apesar do bom desempenho do setor agrícola, provocou deterioração nas contas externas. O mergulho prematuro dos juros em 2011, acompanhado da política de desvalorização do real, além de não ampliar o mercado externo para o setor produtivo, causou mais inflação. Para evitar a escalada dos preços, o governo optou pelo represamento das tarifas de energia, dos combustíveis e dos transportes urbanos. A reviravolta da política de juros em 2013 não foi suficiente para segurar a inflação.

Tudo isso junto derrubou a confiança do setor produtivo e do consumidor. O Tesouro está esgotado porque gastou em excesso e fez renúncias demais à arrecadação de impostos. Não consegue manter seu foco anticíclico quando mais precisa dele para reativar a economia.

O governo Dilma descobriu tarde que a ênfase no consumo, sem acionamento do investimento, produziria a derrapada em curso. A abertura às concessões de serviços públicos também não deslanchou, por falhas de gerenciamento do mesmo tipo das que causaram atraso e desperdício nas obras da Copa.

Como ocorreu com o Tesouro, o avanço ao patrimônio das joias da coroa, como Petrobrás e Eletrobrás, sacrificou a capacidade de investimento e derrubou setores promissores da economia, como o do etanol e o da produção de energia alternativa.

Há quem argumente que a economia só precisa de uns ajustes. Não é verdade. Além de uma forte recalibragem nos fundamentos para que voltem a dar sustentabilidade ao crescimento, a economia precisa de reformas. E isso, por sua vez, exige uma custosa transferência de contas a pagar para toda a sociedade.




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