Vazamento de petróleo na Bacia de Campos é de 3.738 barris por dia e se estende por 2.379 km2
Hora do povo
Na quarta-feira, a Polícia Federal abriu inquérito para apurar as atividades da Chevron no campo petrolífero de Frade, que redundaram num vazamento até agora envolto em subterfúgios – e mentiras.
Logo à primeira inspeção, o delegado Fábio Scliar, da Delegacia de Meio Ambiente, relatou que “técnicos da PF encontraram divergências sobre o que foi informado pela Chevron sobre o vazamento. Entre elas estão a quantidade de navios que recolhem o óleo no local (a empresa afirmou que são 17 e a PF encontrou apenas um), o tempo para a selagem do poço e o tamanho da mancha de óleo”.
A plataforma Sedco 706 pertence à Transocean, que alugou à British Petroleum (BP) a Deepwater Horizon, que explodiu no Golfo do México, causando a pior catástrofe ecológica da história dos EUA.
O petróleo no Campo de Frade foi descoberto em 1986 pela Petrobrás. Em 1999, no governo Fernando Henrique, foi transferido para a Texaco, hoje parte da Chevron.
A Chevron é a Standard Oil of California, a segunda maior companhia petrolífera dos Rockefellers (logo após a Exxon). Não é conhecida particularmente pela competência (o rol dos seus delitos por imperícia, negligência e ganância é dos maiores do mundo). Mas tem dinheiro suficiente para comprar a acurada opinião de jornais, TVs, escribas de aluguel, ecologistas de araque, e algumas autoridades – além das que nem precisam de dinheiro à vista para se curvar a uma multinacional.
Desde que o vazamento se tornou público, explodiram dois escândalos - e, realmente, não sabemos qual o maior e pior: se um vazamento irresponsável em que escasseiam informações e abundam mentiras, ou se o vergonhoso “noticiário” da mídia colonizada, a mesma que está sempre disposta a atacar a Petrobrás, sobretudo pelos seus sucessos, e que agora é uma veiculadora dos press-releases da Chevron - quando não vai além deles, na bajulação de uma das mais vorazes “sete irmãs”.
Além do colaboracionismo aberto da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e do Ibama com essa urtiga viscosa do decadente monopolismo norte-americano. Acrescentemos, ainda, o silêncio denunciador de ongs pseudo-ambientais, ecologistas de fancaria, marinas da vida e outras pessoas amargas.
A maior parte (quase tudo) que foi apurado sobre o vazamento, deve-se ao jornalista Fernando Brito, que edita o blog do deputado Brizola Neto (PDT-RJ). Aqui, citaremos amplamente os fatos descobertos por este jornalista. Rememoremos, então, os acontecimentos.
Na quarta-feira, dia 9, a Federação dos Petroleiros do Norte-Fluminense denunciou um vazamento no Campo de Frade. A Chevron nada comunicara ao governo brasileiro ou ao público.
No dia seguinte, quinta-feira, dia 10, a Agência Estado publicou uma nota: “’O vazamento se deve a uma rachadura no solo do oceano. É um fenômeno natural’, disse Heloisa Marcondes, porta-voz da Chevron Brasil. ‘Nós estamos mobilizando todo nosso pessoal’ para conter o vazamento”.
Segundo a Chevron, o petróleo começara a vazar “naturalmente”. Um fenômeno tão natural que, segundo sua funcionária, a Chevron estava “mobilizando todo nosso pessoal” para corrigir a natureza.
A mancha de petróleo no mar foi registrada por um satélite artificial ao meio-dia da quarta-feira, dia 9 – portanto, o vazamento começou, no mínimo, 24 h antes, na terça-feira, dia 8. Apesar disso, seis dias depois, a mídia insistia em que o vazamento começou na quinta-feira, porque só foi nesse dia, dois dias depois, que a Chevron admitiu no Brasil o vazamento. Além de atribuí-lo a um “fenômeno natural”, a Chevron falsificou a localização, apontando-a “entre o campo de Frade e o de Roncador” (este último é operado pela Petrobrás).
No entanto, o Ibama, no dia 16, emitiu nota destacando que “a empresa responsável pela perfuração em nenhum momento sonegou informações aos órgãos ambientais” (grifo nosso). Se isso fosse verdade, a direção do Ibama teria que ser demitida por esconder do país a informação que recebeu.
A mesma nota diz que o Ibama só vai “mensurar o dano ambiental ao final dos trabalhos”, isto é, “assim que o vazamento for estancado”. Trata-se de um privilégio que nem a BP teve do frouxíssimo governo Obama. Mas, sobretudo, é uma restrição ao direito dos brasileiros de saber o que está acontecendo. Para que serve o Ibama? Só para bloquear obras fundamentais para o país porque havia uma bagre dourada nadando num rio da Amazônia ou um passarinho com sede no rio São Francisco?
Porém, continuemos.
A ANP saiu imediatamente em defesa da Chevron. Sua maior façanha foi divulgar que o vazamento era de, no máximo, apenas 330 barris/dia (cada barril tem cerca de 159 litros), enquanto a própria Chevron afirmava que era de 400 a 650 barris por dia, e, posteriormente, de 800 barris por dia.
A Chevron sabia da existência de uma falha geológica na área – ela mesma se referiu a isso em relatório ao Ibama. Também sabia que o petróleo, na bacia sedimentar, estava a 3 mil metros de perfuração, onde a Petrobrás o achou. No entanto, alugou uma sonda com capacidade de perfurar até 7.600 metros. É provável que, sem experiência nem tecnologia para isso, quisesse chegar ao petróleo da camada pré-sal – o que não é ilegal (infelizmente), mas a Chevron devia ter razões para fazê-lo ocultamente: divulgara amplamente que, no Campo de Frade, extrairia petróleo pesado – isto é, da bacia sedimentar, não do pré-sal – para exportá-lo (cf. Revista TN Petróleo, nº 66).
Por que estava tentando fazer isso às ocultas? Exatamente por sua falta de condições tecnológicas ou de segurança para fazê-lo. O que aponta para isso são dois fatos: 1) o preço que pagava pelo aluguel da sonda (US$ 315 mil/dia) é muito abaixo do aluguel das sondas mais modernas; 2) a plataforma Sedco 706 é uma velharia com 35 anos de idade, já aposentada no Mar do Norte, onde era utilizada como alojamento para trabalhadores, e não mais para perfurar – conforme matéria de 2008 do “The Wall Street Journal”.
No entanto, com essa sucata, a Chevron estava perfurando três poços ao mesmo tempo. Como diz Fernando Brito:
“... a Chevron-Texaco, para fazer economia, está fazendo perfurações ‘de batelada’. Isto é, cava uma seção de um poço, tampa, cava a seção inicial de outro, faz o mesmo e vai para um terceiro, para voltar, na mesma sequência, para cada fase posterior de perfuração. (…) nos mapas da ANP não encontramos nenhuma outra petroleira que use este método. (…) são atribuídas quatro perfurações à Sedco 706, uma concluída e três em andamento simultâneo, segundo dados do dia 3 de novembro passado”.
O resultado desse afobamento esganado, combinado com o atraso tecnológico, numa área com uma falha geológica, foi desastroso. Depois, a mentira.
A Chevron afirmou no dia 14 que a mancha no mar tinha 163 quilômetros quadrados. A pedido do deputado Brizola Neto, o geógrafo John Amos, cujo site, Skytruth, é especializado em fotografias por satélite, avaliou várias imagens. Eis as suas conclusões:
“A imagem de satélite MODIS/Aqua da NASA foi tirada há três dias [12/11]. Ela mostra uma mancha de óleo (…) que se estende por 2.379 quilômetros quadrados (…) um volume de 628 mil galões (14.954 barris) de petróleo. Supondo que o vazamento começou ao meio-dia em 8 de novembro (...), estimamos uma taxa de vazamento de pelo menos 157 mil galões (3.738 barris) por dia. Isso é mais de 10 vezes maior do que a estimativa da Chevron de 330 barris por dia”.
A estimativa de 330 barris/dia é da ANP. Mas isso somente quer dizer que o vazamento é seis vezes maior do que declarou a Chevron – e, claro, 10 vezes maior do que a ridícula ANP quis fazer crer.
Só na última terça-feira, a ANP divulgou que tinha realizado uma reunião sobre o vazamento e enviado uma diretora para uma ignota Sala de Emergência da Chevron.
A diretora, Magda Chambriard, é aquela que, no dia 4 de outubro, na Offshore Technology Conference (OTC), prometeu leiloar o pré-sal às multinacionais (HP, 07/10/2011).
CARLOS LOPES