Enquanto outros países em desenvolvimento, como China, Índia e Coréia, investem na formação de pesquisadores e se transformam em produtores de conhecimento que dinamiza suas economias, o Brasil não consegue eliminar o fosso que separa as instituições de pesquisa das empresas privadas nem aumentar o volume de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Vai ficando para trás numa corrida decisiva para sua inserção num mundo cada vez mais competitivo, sobretudo nos segmentos mais dinâmicos da indústria, como o da microeletrônica.
Estudo do consultor do Banco Mundial (Bird) Alberto Rodríguez, publicado pela Confederação Nacional da Indústria, confirma que, apesar do conhecido diagnóstico sobre o atraso do País na área tecnológica, pouco se faz de prático para superar o problema.
Os pesquisadores brasileiros publicam seus trabalhos num volume aceitável - eles respondem por cerca de 2% dos artigos científicos das principais publicações internacionais -, mas os resultados práticos das pesquisas são modestos. O Brasil responde por apenas 0,18% do total de patentes registradas no mundo.
"Há a necessidade de que a pesquisa feita na universidade e nos laboratórios seja mais voltada para aplicações práticas e menos teóricas", diz Rodríguez. E o setor privado precisa investir mais em pesquisa e desenvolvimento.
Países como China, Coréia e Índia investem na formação de pesquisadores em áreas tecnológicas, para que seus conhecimentos estimulem o crescimento. No Brasil, como constatou Rodríguez, apenas 19% dos estudantes das faculdades estão matriculados nas áreas de ciências e engenharia. No Chile são 33% e na China, 53%.
Não surpreende que, como mostraram o físico Roberto Nicolsky e o engenheiro André Korottchenko de Oliveira em artigo publicado segunda-feira no Estado, o Brasil venha caindo na classificação dos países que mais registram patentes no escritório americano que cuida do assunto, o Uspto (da sigla em inglês). Há anos o Brasil vem sendo superado pelos países asiáticos, que centraram as políticas de apoio à inovação em áreas de grande impacto sobre diferentes cadeias produtivas, como a microeletrônica. Trata-se, como dizem os autores, de um "setor transversal que agrega valor à tecnologia de outras indústrias".
Malásia, China e Índia são países que apresentam um grande dinamismo na área eletrônica e de software. A Índia, que até 1998 estava atrás do Brasil na classificação do Uspto, dobrou o número de patentes nessa área no triênio 2005-2007, em relação ao triênio anterior, e já responde por 44% dos registros.
O Brasil conseguiu bons resultados em apenas um setor industrial que registra grande crescimento nas exportações mundiais, o de farmácia-biotecnologia. O número de patentes cresceu de 26 para 40 no triênio 2005-2007, com destaque para as subáreas de farmácia-cosmética (de 13 para 23) e de produtos agrícolas e alimentares (de 6 para 11 registros).
É bom também o desempenho do Brasil no comércio de produtos agroindustriais, segmento no qual o País é muito competitivo graças aos investimentos em tecnologia feitos pelo setor nos últimos anos. É, porém, um segmento sujeito a intensas oscilações de preços. Já o segmento no qual os países asiáticos concentraram seus esforços, o de produtos industriais com grande conteúdo tecnológico, é menos sujeito a variações bruscas de preços.
Para alcançar até 2010 o nível de investimentos em pesquisa e desenvolvimento dos países asiáticos de rápido crescimento, de cerca de 2% do Produto Interno Bruto, o setor privado brasileiro teria de triplicar suas aplicações nessa área. Mas as empresas privadas não dispõem de capital suficiente para isso, e, se dispusessem, esbarrariam em obstáculos históricos, como seu notório temor de aplicações de risco e sua falta de experiência.
O governo, cuja ação seria decisiva no estímulo à inovação, é lento na liberação dos financiamentos para pesquisa, é tímido na utilização de seu poder de compra como instrumento de estímulo à inovação e não consegue aproximar as universidades das empresas.
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