fonte: Estadão
Reuters
Por Ana Flor
PORTO ALEGRE, 26 Jan (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira para uma plateia de esquerda na versão reduzida do Fórum Social Mundial (FSM) que "receitas fracassadas" estão sendo impostas para a Europa como solução para a crise econômica.
Afirmando não estar satisfeita com os resultados da reunião do G20 ocorrida em novembro, em Cannes, na França, Dilma disse ser difícil "produzir novas ideias e alternativas" quando se está "dominado por preconceitos políticos e ideológicos".
"Conhecemos bem essa história ... impingiram aos países da América Latina o modelo conservador que levou nosso país à estagnação, à perda de espaço democrático e soberano, aprofundando a pobreza, o desemprego e a exclusão social. Hoje, essas receitas fracassadas estão sendo propostas novamente na Europa", disse a presidente no Fórum Social Temático, versão local do FSM.
p>Países membros do G20, incluindo o Brasil, têm prometido ajuda monetária à Europa por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para isso, exigem que o continente resolva seus problemas fiscais.
A presidente foi recebida no ginásio Gigantinho por uma militância de partidos políticos e organizações de esquerda. Ao lado do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), ela voltou a falar contra o neoliberalismo e na mudança de rumos no país desde 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o Planalto.
"O grande nó que o presidente Lula começou a desatar em 2003 é o da exclusão social, como mostram os 40 milhões de brasileiros que deixaram a miséria e ascenderam às classes médias... O lugar que o Brasil ocupa no mundo não é consequência de nenhum milagre econômico, é consequência do trabalho de seu povo e seu governo. O Brasil hoje é um outro país", disse Dilma.
Ela falou da importância dos movimentos sociais para que a Rio+20, conferência ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU) que será realizada no Rio de Janeiro, em junho, tenha sucesso.
Segundo a presidente, a tarefa atual da sociedade é "desencadear um movimento de renovação de ideias e novos processos absolutamente necessários para enfrentar os dias difíceis".
Dilma citou ainda os movimentos de protesto e de ocupação, como o Ocupe Wall Street, que surgiram nos últimos anos na Europa e nos Estados Unidos como "sintomas importantes" da dissonância entre governos e seus povos.
"O mundo pós-neoliberalismo não pode ser o da pós-democracia", disse ela.
Mais cedo, ao participar de um evento fechado para cerca de 80 pessoas, Dilma chegou a dizer, segundo relato de três participantes feito à Reuters, que a população brasileira está "vacinada" contra o neoliberalismo.
"Ela (Dilma) garantiu que o povo brasileiro está vacinado contra o neoliberalismo. Mas eu não estou tão certo (que o povo está vacinado)", disse o sociólogo português e professor da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, integrante da organização internacional do evento.
As declarações da presidente foram relatadas ainda pelo teólogo Leonardo Boff e pelo empresário Oded Grajew. Ela ainda defendeu que a parcela não-governamental do evento tenha o lema "Um Outro Mundo é Possível" para a Rio+20. O mote é lema do FSM desde 2001.
Segundo os relatos, a presidente defendeu diante do grupo que não é mais possível adotar um discurso anticapitalista, pois ele "não dura cinco segundos".
"Não adianta ser anticapitalista. Precisamos de alternativas", teria dito a presidente, de acordo com os relatos.
Dilma voltou na noite desta quinta-feira para Brasília. Ela cancelou uma viagem ao Rio de Janeiro agendada para sexta-feira, na qual participaria de uma cerimônia ao lado do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes.
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