SÃO PAULO - As razões que levaram Roberto Jefferson a denunciar o mensalão, em junho de 2005, são conhecidas. Ele estava no centro de um escândalo de corrupção, esperou por uma boia que o governo Lula não quis atirar e preferiu submergir atirando a se afogar em silêncio.
Prestes a perder o mandato, o então deputado revelou uma mágoa antiga -e talvez mais determinante para sua revolta com a nova elite dirigente. O PT, ele disse, tratava partidos aliados como "prostitutas". Pagava pelo serviço final, mas se recusava a fazer a corte, dar a mão no cinema, convidar para jantar.
Veterano na defesa de governos de todos os tipos, o chefe do PTB se queixava de defender o Planalto sem ser ouvido, fornecer votos no Congresso sem direito a opinar.
Sua rebelião ensinou que políticos, além de verbas e cargos, também precisam de carinho. Uma lição que os petistas pareceram ter aprendido quando Lula levou Fernando Haddad à casa de Paulo Maluf.
A cena lembrou um casamento à moda antiga: o pai conduzindo a noiva, o jardim de filme americano, os sorrisos de álbum de retratos. Quando os flashes pararam, poucos se lembravam da canetada que instalou um malufista em posto-chave do Ministério das Cidades. Então veio a saída de Luiza Erundina, e a relação tomou outro rumo.
O candidato deixou claro que Maluf não será bem-vindo na propaganda de TV e se recusa a citar seu nome em entrevistas. Um dirigente petista escreveu artigo em defesa da aliança sem mencionar o aliado, e a nova vice avisou que ele terá "papel reduzido" na campanha. A guinada chegou ao ápice no último sábado, quando militantes petistas vaiaram o ex-prefeito na convenção que lançou Haddad.
Maluf não é Jefferson, mas compartilha com ele o gosto pelo flerte político e a repulsa a se sentir desprezado por quem apoia. Resta saber como reagirá ao tratamento que o ex-deputado descreveu sete anos atrás.
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