Política
PT na parede EDITORIAL DE O GLOBO
O presidente Lula, de volta da Líbia, reconfortado com a recepção de torcedor aos campeões do Corinthians, enquadrou o PT, debelando qualquer tentativa de apoio ao licenciamento do presidente do Senado, José Sarney, defendido da tribuna por Eduardo Suplicy e admitido por Aloizio Mercadante, líder do partido. Este teve de recuar. Já Suplicy se manterá na mesma trajetória errante dentro do partido. A palavra-chave usada por Lula para vergar resistências - não bastasse seu poder - foi "governabilidade". Na visão planaltina, concordar com o afastamento, mesmo temporário, de Sarney, para facilitar as investigações das denúncias sobre os desmandos administrativos, levaria ao risco de desestabilização do governo. Estranha interpretação, pois existem ritos regimentais para esses casos, seguidos sem que a República seja abalada.
É preciso, portanto, interpretar o que Lula entende por "governabilidade". Uma coisa são os problemas de governabilidade do PT, os objetivos de Lula para 2010, algo que diz respeito ao Palácio, a seus projetos de poder; outra, a crise grave de moralidade que atinge a administração do Senado. Esta importa esclarecer em nome da sociedade, situada acima do varejo político. Propor a licença de José Sarney visa a abrir espaço para jogar luz sobre o que precisa ser iluminado, independentemente de quem está no Planalto. Planos de Lula para 2010 não são questão do Estado brasileiro. São assunto da agenda específica do presidente. A governabilidade não depende do apoio do PMDB à candidatura Dilma Rousseff. Depende do cumprimento da Carta, da defesa do estado de direito.
Tudo isso é um atentado à história do PT dos tempos de oposição - como seria à do PSDB ou de qualquer outro partido -, forçado a ser guarda-costas da banda mais fisiológica do PMDB. Mancha a biografia do próprio presidente Lula defender, em nome da aliança com o PMDB em 2010, um desfecho para a crise cujo resultado será facilitar o acobertamento de delinquentes de colarinho branco instalados em QGs no Senado.
Não que a permanência de Sarney signifique proteger a corrupção. Mantê-lo, porém, facilita manipulações que interpretam de maneira sibilina qualquer investigação séria no Senado como manobras contra o PT, o Palácio e a candidatura Dilma. A falta de ética e a corrupção passam a contar com uma trincheira privilegiada. Repete-se o truque que levou Lula a trabalhar contra a investigação do escândalo do mensalão, no primeiro mandato. E agora o faz sabotar o funcionamento da CPI da Petrobras e a trabalhar, mesmo que involuntariamente, para evitar o saneamento da burocracia do Senado.
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