'Quem quer paz [no mundo] é o povo, mas tem governante que precisa da discórdia', diz Lula na Alemanha
Política

'Quem quer paz [no mundo] é o povo, mas tem governante que precisa da discórdia', diz Lula na Alemanha








Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Lula comentou temas ao lado do líder do SPD, Frank-Walter Steinmeier (à direita)


O presidente Lula, em conversa hoje com lideranças do SPD, o partido democrata alemão (de oposição ao atual governo de Angela Merkel), na Fundação Friedrich Ebert, defendeu o diálogo como o principal instrumento da política internacional.



Ao lado do ex-ministro de relações exteriores da Alemanha e líder da bancada do SPD, Frank-Walter Steinmeier, Lula comentou que a recusa à inclusão dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança da ONU e o desprezo ao diálogo são parte da mesma resistência à mudança nas relações de poder internacionais. “O problema é que quem está lá [no poder] não quer repartir o poder. É muito cômodo do jeito que está”.

Para ele, a política teria como resolver grandes conflitos mundiais como, por exemplo, o do Oriente Médio, mas grandes interesses acabam interferindo também nas decisões dos organismos de governança mundial: ”Eu acho que tem gente no mundo que não quer paz, quem quer paz é o povo, mas tem governante que precisa da discórdia para poder ser importante. Senão, não teria nenhuma explicação a gente não ter paz no Oriente Médio. A mesma ONU que criou o Estado de Israel, por que que não cria o Estado palestino?”.

Frank-Walter elogiou as mudanças na política externa do Brasil e disse que foi testemunha do empenho do brasileiro em botar em prática sua disposição para o diálogo. “O que o presidente lula nos mostrou na América do Sul foi que apesar das diferenças de interesse entre os países, ele sempre optou por falar, mesmo com os parceiros difíceis. Essa política de inclusão dos parceiros mudou a América do Sul. E acho que mudou para melhor”, completou.

Foi a crença de que a política deve ser exercida para a promoção da paz mundial que o levou ao Irã, em 2010, relatou o ex-presidente brasileiro. “Eu saí do Brasil e fui ao Irã contra a vontade de todo mundo. Eu estava convencido que era possível convencer o Irã a assinar o documento que a agência precisava. Eles me diziam assim ‘Lula, você é ingênuo. Você tá acreditando no Ahmadinejad e ele não fala a verdade’. E eu falei, eu sou ingênuo, mas eu acredito na política. Por que uma vez eu perguntei, nessa reunião de Princeton, Obama, você já conversou com Ahmadinejad? Não. Sarkosy, você já conversou com Ahmadinejad? Não. Angela Merkel, você já conversou com Ahmadinejad? Não. Berlusconi, você já conversou com Ahmadinejad? Não. Hora, se ninguém tinha conversado com o cara, que diabo de política é essa?”.

Ele contou então que ainda assim foi ao Irã e conseguiu que ele assinasse o documento que a agência precisava, um compromisso de uso pacífico da energia nuclear. “Quando eu pensei que o Conselho de Segurança da ONU iria me dar um prêmio de agradecimento porque nós conseguimos o que eles não conseguiram, eles deram a maior demonstração de ciúmes do mundo e ainda assim resolveram punir o Irã”, contou ele.

Sistema financeiro

Em outro momento da conversa, o presidente Lula falou sobre o papel do FMI e a incapacidade dele lidar com a crise nos países ricos e propôs uma reflexão sobre o papel do sistema financeiro.

“Quando caiu o muro de Berlim, muita gente ficava deprimida. E eu dizia, graças a Deus o mundo está livre para pensar outra vez. Eu acho que essa crise não é um chamamento ao desespero, é um chamamento para que a gente discuta coisas novas, que a gente discuta o papel do sistema financeiro no mundo. Um banco não pode existir transacionando papéis, ele tem que financiar o setor produtivo”, defendeu ele. (Com informações do Instituto Lula). 

Os Amigos do Presidente Lula 



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