Política
Quem vai interpretar DSK? ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 21/05/11
A bela detetive Olivia Benson, do seriado "Law & Order", certamente não contava que fosse parar na sua delegacia, a SVU, que investiga crimes sexuais, o suposto estuprador mais famoso da atualidade. Traumatizada, porque nascida de um estupro, ela precisa tomar cuidado com Dominique Strauss-Kahn, um Don Juan de meia-idade que carrega no currículo outras tentativas de sexo forçado. A de agora provavelmente vai virar um episódio do seriado, juntando os dois personagens, o da ficção, ela, e o da realidade, ele. É uma história tão improvável que será preciso insistir que se trata de um fato real. A sinopse é simples, mas surpreendente.
Um poderoso diretor do FMI, favorito dos franceses para ser o próximo presidente, hospeda-se num hotel luxuoso de Manhattan, ataca nu a camareira de 32 anos, sai às pressas, esquece o celular, telefona já do aeroporto para a portaria do hotel e assim revela onde está. A polícia segue para o local e o retira da primeira classe pouco antes de o avião partir. Começa então o inferno astral do popular DSK, como é conhecido em seu país. Algemado, abatido, com a barba por fazer, é exibido publicamente e tem recusada a fiança de US$1 milhão (depois aceita, mas em valor muito maior: US$1 milhão imediatamente e mais US$5 milhões em garantias).
Para virar roteiro, no entanto, alguma coisa precisa ser esclarecida. A "Ata de Acusação" relata com sua linguagem sem sutileza o que ocorreu: "O acusado tocou (...) à força a região vaginal da declarante; pôs em contato seu pênis com a boca da declarante duas vezes, e foi capaz de realizar os atos antes mencionados à força." Fica-se sabendo também que, além do duplo sexo oral, DSK praticou sexo anal. Como o acusado tem 62 anos e essas proezas não duraram mais de uma hora, a questão é se não estamos diante de um raro fenômeno de desempenho sexual.
Ao expor cruamente detalhes íntimos, o escândalo revelou um choque de duas culturas. O tratamento judicial e jornalístico dispensado ao acusado, com humilhação pública (o que é ilegal na França), chocou os franceses, mais pelo destaque do que pelo que era revelado, pois a imprensa de Paris não desconhecia, mas nunca publicou, outras histórias de assédio sexual de DSK. É que, enquanto a mídia americana escancara a vida privada dos homens públicos, a francesa esconde. Isso explica a incrível desconfiança da população em relação ao que aconteceu nos EUA. A maioria dos entrevistados acredita que DSK foi vítima de um complô e caiu numa armadilha. A teoria conspiratória é alimentada pelo que ele vaticinou numa entrevista em abril, quando se referiu à hipotética situação em que uma mulher, por dinheiro, poderia inventar que fora estuprada por ele num estacionamento.
Como se vê, é um roteiro quase pronto para um futuro episódio do "L&O — Special Victims Unit". Eu só gostaria de saber quem vai interpretar o ex-diretor do FMI ao lado de Olivia, que na vida real é Mariska Hargitay, filha da atriz Mae West.
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