O apagão da última terça-feira deixou como lição principal o fato da vulnerabilidade do setor elétrico brasileiro. Existem várias hipóteses para explicar as causas do apagão que vão desde uma possível sabotagem até uma sobrecarga no sistema. O governo afirma que o motivo foi atmosférico, ou seja, raios e trovões.
Seja qual for o motivo, é inadmissível querer explicar um apagão que atingiu 18 estados brasileiros, 60 milhões de brasileiros, através de problemas atmosféricos. O que chama a atenção em primeiro lugar foi o fato de 18 turbinas da usina de Itaipu estarem ligadas numa terça-feira às 22 horas, enquanto apenas 1000 MW de térmicas. A primeira conclusão é que o governo abriu mão da confiabilidade do sistema elétrico em favor da chamada modicidade tarifária. E por que isso teria ocorrido?
No ano passado quando os reservatórios estavam vazios, o governo ligou as térmicas a óleo e gás natural que são mais caras que as hidrelétricas, principalmente as térmicas a óleo. Isso gerou uma conta de R$ 2 bilhões que foram repassados às tarifas de 2009, o que ocasionou um aumento justo num ano de crise econômica. Como este ano o consumo de energia elétrica caiu em função da crise e os reservatórios estão cheios, o governo decidiu despachar somente usinas hidroelétricas. Caso, por exemplo, o governo tivesse despachado mais usinas térmicas a gás e menos energia de Itaipu, o apagão poderia ter sido evitado ou no mínimo a sua extensão seria menor, caso a causa tenha sido realmente atmosférica.
Vamos torcer que o governo tire lições desse evento, elaborando políticas de médio e longo prazo que incentivem mais investimentos para implantação de uma gestão baseada em tecnologias novas que permitam uma maior segurança nas linhas de transmissão, a construção de mais linhas e uma maior diversificação da matriz elétrica brasileira. Por exemplo, possibilitar geração a bagaço de cana daria uma maior segurança ao estado de São Paulo, energia eólica ao nordeste. Vamos tratar a questão energética e o resto dos setores da infra-estrutura de uma forma menos politizada e ideológica e mais técnica. A infra-estrutura não pode continuar sendo o ponto de estrangulamento ao crescimento da economia brasileira.