O Brasil votou no dia 16 a favor do chamado Relatório Goldstone (íntegra aqui), que acusa Israel e o Hamas de crimes de guerra em Gaza. O texto foi aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU, composto de 47 membros, por 25 votos a 6 e 11 abstenções. Cinco países se negaram até a votar. O nome do relatório é uma referência ao juiz sul-africano Richard Goldstone. Aparentemente, o relatório condena os dois lados. De fato, as acusações contra Israel são muito mais severas e ocupam quase todas as 575 páginas do documento. Entre outras delicadezas, omite as evidências de que o Hamas usou a própria população palestina como escudo. O conjunto revela uma farsa estupenda. E o papel do Brasil é mais detestável do que parece à primeira vista. Vamos ver.
Está tudo errado com esse relatório. Aliás, está tudo errado com o próprio Conselho de Segurança, cujo vice-presidente é o egípcio Hisham Badr. O Egito é uma das ditaduras mais truculentas no planeta. No conselho, é apenas uma das tiranias. Também têm assento por lá as seguintes democracias exemplares: Angola, Bangladesh, China, Cuba, Gabão… Esses três últimos países, além do próprio Egito, fizeram parte do grupo que propôs a investigação. Trata-se, obviamente, de uma piada.
A mentira já começa na escolha do “juiz” Richard Goldstone, que é judeu. Quando se escolhe um judeu para averiguar se Israel é culpado ou inocente, o que se espera é que, em nome da isenção, ele declare a culpa do país, entenderam? Nem farei considerações aqui sobre a cultura judaica da autocrítica — “mal” de que não parecem seus adversários. Aponto a má-fé óbvia da escolha: se ele concluísse pela inocência de Israel, diriam: “Também, foram entregar a tarefa logo para um judeu…” Como ele concluiu que o país é culpado, a imprensa mundial destaca: “E olhem que Gladstone é judeu…” Judeu só é isento se condena Israel
Para começo de conversa, ele não foi designado para saber se Israel cometeu crimes de guerra e sim para colher evidências do que já era dado como certo. Ele não precisa vainvestigar nada. Bastava buscar algumas narrativas que endossassem o que o Conselho de Direitos Humanos, coalhado de facínoras, já havia decidido.
Provo o que digo. A decisão de criar a comissão é do dia 3 de abril deste ano. Aqui está a resolução de 13 de janeiro, que já condenava Israel. Por que fazer investigação se as conclusões já estavam prontas? O item 473, nas páginas 144 e 145, é patético. Traduzo: “A missão perguntou a diversas testemunhas em Gaza por que elas ficaram em suas casas apesar dos bombardeios e da invasão israelense. Elas declararam que decidiram ficar porque já conheciam incursões anteriores e, com base naquela experiência, não pensaram que correriam algum risco se permanecessem dentro de casa e porque não tinham lugar seguro para ir. Além disso, algumas testemunhas declararam que decidiram ficar porque queriam cuidar de sua casa e de sua propriedade. A Missão não encontrou evidências de que os civis foram forçados por grupos palestinos armados a permanecer nas suas casas”.
Como se vê, não é que o relatório omita a existência de escudos humanos. Ele os nega. O texto é um primor. Até o suposto auto-engano das vítimas (”com base em experiências anteriores”…) é responsabilidade de Israel. Pergunto: aquelas pessoas se imaginavam seguras, não tinham aonde ir ou queriam cuidar de suas propriedades? É o fim da picada! O Relatório Gladstone é um calhamaço de acusações contra Israel. A crítica ao Hamas é só um tributo da virtude ao vício. Na prática, o único ato errado que Gladtone atribui ao grupo é ficar jogando foguetes contra civis israelenses. Mas, como eles não costumam matar quase ninguém, isso não parece ser tão grave. Assim, o que parece aliviar a culpa daqueles humanistas é o fato de que não há cadáveres judeus o bastante. Se os israelenses querem ver o Hamas ser realmente criticado na ONU, terão de permitir que eles sejam mais eficientes, deixando-se matar. É um troço nojento. Se vocês quiser emsaber mais sobre o Relatório Gladstone, cliquem aqui. Há links com opiniões também favoráveis ao texto.
Agora o Brasil
O Brasil votou a favor desse negócio. O placar foi apertado: 25 a 6, com 11 abstenções. Cinco países se negaram a participar até da votação, tal o escândalo do texto, incluindo Reino Unido e França — que chamou a decisão de “farsa diplomática”. Os EUA também o condenaram.
O Itamaraty, este de Celso Amorim, conseguiu confundir um pouco o noticiário. Teve uma posição muito mais asquerosa e anti-Israel do que parece à primeira vista. O Brasil apareceu como aquele que queria mudar o texto, como se estivesse descontente com o seu conteúdo. Não estava, não! Queria apenas omitir o trecho que remete a decisão para o Conselho de Segurança — onde o documento, evidentemente, contará com o endosso só de China e Rússia, mas será recusado por Reino Unido e França. E era isso o que Amorim queria impedir. Para ser absoluta e resolutamente contra Israel, seria preciso que esta “condenação” do Conselho de Direitos Humanos tivesse o aspecto de sentença final.
Só para lembrar: este mesmo conselho que condena Israel livrou a cara do genocida sudanês, que já matou mais de 300 mil pessoas em Darfur. Assim como o Brasil trabalhou agora para condenar Israel, trabalhou antes para ajudar o facínora. No mês que vem, Lula recebe com honras o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. É aquele rapaz que quer fazer a bomba atômica, que promete destruir Israel e que nega que o Holocausto tenha existido.
Faz sentido! Faz todo o sentido! Brasil com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU? Por que não o Sudão?