Iniciada a temporada de verão, dezenas de navios turísticos visitam a costa do país, estimulando uma pergunta: até quando as autoridades responsáveis pela fiscalização do meio ambiente e da saúde pública vão fazer vistas grossas aos impactos ambientais causados por eles? Qual o volume de esgoto que esses navios deixarão em nossas costas e nos estuários dos grandes rios? Ninguém dispõe no Brasil de estatísticas que demonstrem a sujeira que essas embarcações deixam para trás. Foi relatado que, durante a madrugada, dejetos e lixo sólido foram atirados ao mar, mas nenhuma autoridade contabilizou ou verificou esses relatos, seja por descaso ou por incapacidade de fiscalizar.
Tal como uma cidade flutuante, durante uma típica viagem de uma semana, um navio de turismo de grande porte (com três mil passageiros e tripulantes) é capaz de gerar 795 mil litros de esgoto e cerca de três milhões e oitocentos mil litros de gray water (água residual de pias, chuveiros e lavanderias), de acordo com o Bureau of Transportation Statistics, do Departamento de Transporte dos EUA.
O lixo sólido assim como a black water, que é o esgoto e água residual de sanitários e instalações médicas, podem conter bactérias nocivas, patógenos, vírus, parasitas intestinais e nutrientes nocivos, que, ao arrepio das leis internacionais, também são lançados nas águas brasileiras. Estes resíduos, quando não tratados, podem causar contaminação bacteriana e viral em áreas pesqueiras e viveiros de frutos do mar, ocasionando riscos potenciais à saúde pública.
Navios que em águas internacionais são multados em centenas de milhares de dólares, aqui no Brasil trafegam sem nunca terem sido admoestados.
O mais grave acontece na Amazônia brasileira. As águas barrentas escondem os dejetos que são despejados ao longo das 800 milhas náuticas (cerca de 1.500 quilômetros), que levam os navios até Manaus. As populações ribeirinhas que vivem do rio estão expostas a doenças silenciosas que, mais tarde, terão grande impacto nas estatísticas da saúde pública no país. Esse problema que se agrava em tempos de ebola e do risco de sua introdução do Brasil, além da mortandade da fauna, especialmente de peixes, que compõem a dieta básica dessas populações.
Para quem está se perguntando sobre o impacto dos navios cargueiros no meio ambiente, a resposta é simples: estes, por terem número reduzido de pessoas a bordo, causam menos danos ao meio ambiente e têm recipientes próprios para esgotamento.
É preciso com urgência votar no Congresso Nacional leis modernas para fazer frente ao aumento exponencial do tamanho dos navios, que a cada dia trazem um maior contingente de turistas e, junto com eles, maior volume de esgoto, rejeitos sólidos e, potencialmente, danos ambientais e à saúde pública.
Ricardo Falcão é presidente do Conselho Nacional de Praticagem
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