Ricardo Noblat O troco do senador
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Ricardo Noblat O troco do senador


Eis a história exemplar de um senador empenhado em livrar-se do seu suplente ou em forçá-lo a pedir demissão do emprego que ocupa no governo.

Se preferir, a história de um ex-funcionário fantasma do Senado, dono de um dos maiores orçamentos da República, que hesita entre ser ou não senador durante 100 dias e, talvez, por mais quatro anos.

O senador se chama Jayme Campos, do DEM (foto acima). Foi governador do Mato Grosso nos anos 90. Quer ser candidato a governador no próximo.

O suplente se chama Luiz Antônio Pagot. É homem de confiança do governador Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo. Foi duas vezes secretário de Estado.

Indicado por Maggi a Lula, Pagot acabou nomeado Diretor-Geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT).

Em 2006, ele e Maggi apoiaram no primeiro turno Geraldo Alckmin (PSDB) para presidente da República. No segundo turno, trocaram Alckmin por Lula.

O DNIT é uma mina de ouro. Dispõe de um orçamento de R$ 17,6 bilhões.

Campos imaginou que Pagot seria sensível às suas reivindicações – afinal, em 2006, barrado como candidato a vice de Maggi, fora aceito por ele como primeiro suplente. O segundo é Oswaldo Sobrinho (PTB), mais ligado a Campos do que Pagot.

Campos testou Pagot tão logo ele tomou posse. Pediu que o DNIT iluminasse a BR-070 na entrada do município de Cáceres. Obra barata: R$ 950 mil.

Pagot disse não. Campos apelou para o chefe dele, Alfredo Nascimento (PR), ministro dos Transportes. Nascimento disse sim. Nem por isso a obra foi executada.

Então Campos concluiu: Pagot é um homem ingrato. Afinal, além da vaga de suplente, ele também deve a Campos o emprego que Maggi lhe arranjou.

Lula despachou mensagem para o Senado em abril de 2007 alçando Pagot à direção do DNIT. Campos foi o relator da mensagem na Comissão de Infra-Estrutura.

Quase deu chabu. Descobriu-se que Pagot desfrutara do dom da onipresença entre 1995 e 2002.

Em linha reta, 3.200 quilômetros separam Brasília de Itacoatiara, município do Amazonas.

Pois Pagot conseguiu ser ao mesmo tempo assessor do senador Jonas Pinheiro (DEM-MT) em Brasília e Superintendente da Hermasa Navegação em Itacoatiara.

A Hermasa é empresa de Maggi. A lei proíbe que um servidor público exerça a função de diretor de uma empresa privada.

Havia mais um agravante: Pagot era sócio de Maggi na empresa. Ganhou R$ 500 mil do Senado sem trabalhar. A mensagem de Lula ficou na geladeira do Senado quase sete meses.

Finalmente, foi aprovada na Comissão por 17 votos contra seis. E por 42 a 24 no plenário do Senado. Campos suou a camisa para que fosse.

Votaram a favor de Pagot senadores que até há pouco se disseram chocados com a existência de funcionários fantasmas no Senado e a presença de José Sarney na presidência.

A vingança de Campos contra Pagot está sendo maligna.

No final de agosto, ele entrou de licença não remunerada para cuidar de “assuntos particulares”.

O tempo máximo permitido é de 120 dias por sessão legislativa. Suplente só assume a vaga a partir do 121º dia. Ocorre que computados o tempo oficial de licença e mais o recesso de fim de ano, Campos ficará fora 130 dias.

Sendo assim, manda o regimento interno do Senado que Pagot assuma o lugar dentro de 30 dias, do contrário perderá a condição de primeiro suplente e a chance de substituir Campos por quatro anos a partir de 2011, caso ele se eleja governador.

Mas para assumir Pagot será obrigado a deixar o DNIT. Ele sabe que dificilmente recuperará o emprego.

A direção do DNIT é muito valiosa para ser entregue aos cuidados de um interino.

De resto, o nome de Pagot teria de ser aprovado outra vez pelo Senado. Por ora, o ambiente ali continua hostil a quem foi no passado funcionário fantasma. E a qualquer momento poderá ser instalada a CPI criada em junho último para investigar o DNIT.

Pagot tem menos de 30 dias para decidir o seu destino.




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