Política
Risco líbio REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 22/10/11
Com a morte do ditador Muamar Kadafi e a esperada reconstrução da Líbia, uma discussão oportuna é o impacto desse processo no mercado mundial de petróleo e de que forma o Brasil pode ser afetado. O especialista em energia Adriano Pires, do CBIE, considera que a nova Líbia tem um potencial enorme de influência nesse mercado, enquanto o Brasil se movimenta na contramão, com risco de perda de espaço e de investidores.
É preciso olhar, não para o que a Líbia representa hoje no mercado de petróleo, mas para o que pode representar a curto prazo, recomenda. Em 2010, a Líbia produziu 1,8 milhão de barris por dia, volume bem próximo da produção do Brasil, de dois milhões de barris/dia, mas o país árabe tem reservas comprovadas de 46,4 bilhões de barris de petróleo, que correspondem a 3,4% das reservas no mundo. Já o Brasil tem 16 bilhões, pois nessa conta não entra o pré-sal.
O novo governo deve utilizar suas reservas naturais no esforço de reconstrução do país. Pires lembra que o setor de petróleo líbio, mesmo durante a ditadura de Kadafi, já vinha experimentando uma relativa abertura ao capital estrangeiro, e a tendência é que essa abertura seja ampliada.
Com o fim do conflito armado, o país árabe torna-se um forte concorrente na corrida pelos investimentos no setor de petróleo, e esse fato pode, sim, afetar o Brasil. Por aqui, o que estamos vendo são grandes mudanças e muitos pontos de interrogação no marco regulatório do setor, que começaram no lançamento do pré-sal e se acentuaram com a briga federativa pelos royalties. Este seguramente não é o melhor ambiente para atrair investimentos, embora o Brasil ainda continue muito atraente.
Um outro complicador, segundo o especialista, é o cancelamento dos leilões para aquisição de novos campos de petróleo. O Ministério de Minas e energia cancelou o leilão previsto para novembro por conta da briga dos royalties no Congresso. E com isso criou, na prática, um mercado secundário. Quem quiser comprar um campo de petróleo tem de adquirir de alguma empresa disposta a vendê-lo.
- O Brasil ainda é muito atraente em função das reservas do pré-sal, mas desde 2007 o risco regulatório cresceu muito, e isso afasta o investidor. Se outros países abrem o mercado, como se espera que aconteça na Líbia, existe sim a possibilidade de os investidores migrarem para esses países.
Derrota temida
A equipe econômica está mobilizada para evitar mais uma derrota, desta vez no Congresso. O temor é que a confusão dos royalties acabe atrapalhando a votação das duas MPs que tratam da nova política industrial. Se não forem aprovadas até o começo de dezembro, as MPs perdem a validade e o Plano Brasil Maior vai para o espaço. Entre as medidas, uma das mais importantes é a desoneração da folha de pagamento de setores exportadores seriamente afetados pelo câmbio, como têxteis e calçados.
Derrota anunciada
A enxurrada de liminares concedidas pela Justiça, em primeira instância, às empresas que recorreram da cobrança do IPI sobre carros importados já indicava a derrota do governo, confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O decreto que aumentou a alíquota em 30 pontos percentuais não observou o prazo de 90 dias para a vigência do imposto, assegurado no artigo 150 da Constituição. Embora a decisão de elevar o IPI dos carros sem a noventena tenha sido gestada e bancada pelo Ministério da Fazenda, a área jurídica da pasta não conseguiu reunir argumentos para defender a medida. A derrota era esperada.
Emprego e renda
A desaceleração da economia, tão temida pelo governo, ainda não se reflete no mercado de trabalho, que continua sendo um fator de pressão na curva da inflação. O economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio, prevê que a taxa de desemprego, de 6%, deve continuar caindo nos próximos meses, ainda que mais lentamente no que no primeiro semestre. Ele observa que a indústria está contratando menos, mas o setor de serviços permanece aquecido e absorvendo mão de obra.
A economista Fernanda Consorte, do Santander, destaca que a redução no ritmo de criação de vagas apontada pelo Caged não chegou à Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE. E, assim, é cedo pra dizer que a geração de empregos está desacelerando.
- Considerando os reajustes dos últimos meses para grandes categorias, o rendimento deve continuar forte, e o mercado de trabalho fortalecido pressiona a inflação - ressalta.
No dia 27, o IBGE divulga a taxa de desemprego de setembro. A conferir.
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