Ritmo quente MIRIAM LEITÃO
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Ritmo quente MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 21/05/11

Ainda não saiu o número do PIB do primeiro trimestre, mas todos os indicadores são de que o crescimento da economia continua forte. Foi isso que mostrou o índice do Banco Central, o salto da arrecadação e vários outros dados setoriais. Se o objetivo era desacelerar a economia para combater a inflação, até agora isso não aconteceu.
O presidente do BC disse que a economia pegou um vento de cauda. O ministro Mantega me disse que o governo está jogando água na fervura mas com o cuidado de não apagar o fogo.
As previsões mostram que o PIB cresceu mais nos três primeiros meses deste ano do que no final do ano passado. Acelerou, em vez de desacelerar. Isso mostra que além do choque de commodities, a inflação é também de demanda aquecida. O IPCA-15 de maio foi de 0,7%, caiu, mas não muito. A inflação mensal cairá a cada indicador, mas a taxa em 12 meses vai subir até ficar além de 7% nos próximos meses, alimentando o risco de indexação.
No quarto trimestre de 2010, o PIB cresceu 0,7% em relação ao terceiro. Enquanto o IBGE não divulga a taxa oficial, que acontecerá em junho, o mercado faz projeções para o primeiro trimestre entre 0,9% a 1,5%. A RC Consultores espera alta de 0,9%. A Tendências prevê 1%. A MB Associados estima 1,2%, enquanto os bancos ABC Brasil e HSBC estimam 1,5%. O indicador IBC-Br medido pelo Banco Central registrou 1,3% no primeiro trimestre, contra 1% no quatro tri de 2010.
O BC diz que está desacelerando porque a comparação de um trimestre contra o mesmo do ano anterior estava em 9% no começo de 2010 e agora está pouco acima de 5%. Comparar com o quatro trimestre de 2010, no entanto, é mais revelador, porque o número do começo do ano ficou distorcido pela comparação com o fundo do poço que foi o começo de 2009, o país estava em recessão.
— Estamos com previsão de 1,3% para o PIB do primeiro tri. Esse crescimento reforça que a inflação não é apenas um choque de alimentos, embora isso já esteja bastante claro para quem olhar para a inflação de serviços — disse José Márcio Camargo, da Opus Gestão e da PUC-Rio. A inflação de serviços está em mais de 8,5%.
Tanto a indústria quanto o comércio cresceram bem neste início do ano. A indústria cresceu 2,3% nos três primeiro meses, enquanto nos últimos três de 2010 ficou estagnada. No comércio houve alta de 2,3% contra 1,5%. A indústria diz que o crescimento agora foi apenas recomposição de estoques.
O comércio continua aquecido pelo crédito e pelo mercado de trabalho. Em março, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) esperava alta de no máximo 1%, e o IBGE divulgou 1,2%. Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da entidade, acha que as medidas anunciadas pelo BC em dezembro, o aperto no crédito nas chamadas medidas macroprudenciais, não tiveram o efeito de desaquecer a economia.
— Já está relativamente comprovado que as medidas macroprudenciais são mais prudenciais do que macro, ou seja, servem mais para inibir abusos do que para frear a concessão de crédito e segurar a inflação. Os juros, que começaram a subir em janeiro, só terão efeito no segundo semestre. O BC fez um diagnóstico de que a inflação seria menor neste início de ano, mas houve surpresas. Ele não contava com a alta do petróleo — afirmou.
O mercado de trabalho continua forte, mantendo taxas mínimas históricas de desemprego. Em março, a massa real de rendimentos cresceu 6,7% em relação a 2010. É isso e o endividamento das famílias que continuam sustentando o consumo.
— O resultado mais forte do comércio em março fez as vendas no primeiro trimestre fecharem em 2,3%. Anualizado, dá um crescimento de 10%, uma taxa ainda bastante forte. Mas acreditamos que vai desacelerar para 7,4% até dezembro — explicou Fábio Bentes, da CNC.
André Loes, economista-chefe do HSBC, explica que o mercado de trabalho demora mais a reagir a estímulos, tanto para acelerar quanto para desacelerar. Por essa razão é importante que o governo segure seus gastos, para impedir que o consumo privado eleve a inflação e interrompa o bom momento do mercado de trabalho.
— Prevemos IPCA de 6,4% este ano e ainda não será no ano que vem que teremos inflação no centro da meta. Se nossas projeções se confirmarem, teremos inflação média de cerca de 6% em três anos. O BC deixou claro que fará uma convergência no longo prazo, o desaquecimento será mais lento. Esse é um risco de termos uma acomodação das expectativas de inflação em níveis elevados. Quando o BC quiser realmente levar a inflação para a meta, terá que dar um tranco mais forte para desarmar as expectativas — explicou.
Sérgio Vale, da MB Associados, também não acredita que a estratégia de pouso suave conseguirá levar a inflação para o centro da meta em 2012:
— Este ano não será de grande ajuste na atividade. No segundo trimestre a expansão continuará forte, em 1,7% em relação ao primeiro.
Será preciso mais engenho e arte do que o governo tem demonstrado para manter o crescimento, desacelerando a economia para reduzir a inflação anual.



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