Qualquer um tem o direito de ser contra os EUA, mas não há nada mais
ridículo que o ato anti-Obama
RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA
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Nada mais ridículo que a convocação de uma manifestação na Cinelândia,
centro do Rio de Janeiro, "em repúdio" à primeira visita de Barack
Obama ao Brasil. Quem convocou foram os "movimentos sociais". Leia-se
CUT, MST, UNE e vários outros grupos com complexo de minoria
colonizada. "Obama é persona non grata", dizia o texto, endossado por
líderes do PT. A presidente Dilma Rousseff se irritou e enquadrou a
militância petista. O governador do Rio, Sérgio Cabral, perguntou: "O
que é isso? Piraram?".
Não é o protesto em si que incomoda. Qualquer um tem direito de ser
contra os Estados Unidos e seu presidente, mesmo que ele não seja mais
George W. Bush. Mas o texto dos sindicalistas petistas é pretensioso e
ultrapassado: "Os movimentos sociais brasileiros rechaçam a presença
de Obama em nosso país". Com que autoridade essas organizações se
intitulam representantes do povo brasileiro?
As 11 entidades que assinam a convocação acusam Obama de "manter a
orientação belicista de ocupar países e agredir povos em nome da 'luta
ao terrorismo'". Trata-se de uma defesa velada da autonomia da Líbia e
de seu ditador, Muammar Khadafi, há 42 anos no poder. Continua assim a
convocação: "Obama chega ao Brasil num momento em que os EUA e seus
aliados, principalmente os europeus, preparam-se, sob falsos
pretextos, para perpetrar novas intervenções militares... e assegurar
o domínio sobre o petróleo".
Esta é a primeira visita do presidente Obama à América Latina. Vem
acompanhado da mulher, Michelle, e das filhas, Sasha e Malia. Não
perceber as diferenças entre Obama e Bush e continuar com o discurso
anti-imperialista é aprisionar-se ao passado e ir contra os interesses
do país. No almoço previsto para este sábado no Itamaraty, em
homenagem ao convidado, dificilmente alguém sentirá a ausência da
Central de Trabalhadores do Brasil, ligada ao PCdoB. Eles alegaram
"incompatibilidade ideológica" para recusar o convite ao almoço.
O Brasil pode não conseguir nada com a visita de Obama. Nem acordos
comerciais vantajosos nem um gesto de boa vontade dos Estados Unidos à
pretensão brasileira de um assento permanente no Conselho de Segurança
da ONU. Mas Dilma está empenhada numa reaproximação Norte-Sul. E Obama
sabe que vai encontrar uma líder que não posará rindo e aos abraços
com o apedrejador de direitos humanos Mahmoud Ahmadinejad.
Qualquer um tem o direito de ser contra os EUA, mas não há nada mais
ridículo que o ato anti-Obama
Os militantes enraivecidos com Obama devem ser os mesmos que
aplaudiram a aproximação entre o Brasil "do cara" e a ditadura do Irã,
sob o argumento do pragmatismo. Não irão jamais às ruas protestar
contra Khadafi, que massacra quem discorda. São os mesmos que
idolatram o fanfarrão do Chávez e defendem qualquer regime autocrático
e populista latino-americano, desde que seja contra os ianques.
Entre eles está o secretário de Movimentos Populares do PT-RJ,
Indalécio Wanderley Silva. Ele enviou e-mails convocando para o
protesto anti-Obama, e foi a uma reunião no Sindicato dos Petroleiros
do Rio. Indalécio é filiado a um diretório presidido até o ano passado
pelo ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, articulador
político de Dilma. Aí começa o constrangimento da presidente,
comandante máxima do país e integrante do Partido dos Trabalhadores.
Imediatamente, o PT do Rio desautorizou qualquer protesto, "em nome de
toda a Executiva Partidária".
O mundo das patrulhas ideológicas é muito chato. Convicções se tornam
dogmas. Há um ranço nesses grupos que cheira a mofo e não tem mais
lugar em nosso país. Militante de esquerda se parece demais com
militante de direita. Na Europa, especialmente na França, comunistas
desiludidos acabam aderindo a candidatos de extrema direita, racistas,
moralistas e xenófobos. Entoam palavras de ordem nacionalistas. Temem
por seus empregos e por isso odeiam imigrantes.
O mesmo pode-se dizer dos radicais sociais: são chatos os militantes
gays, as militantes feministas, os militantes afrodescendentes, os
militantes religiosos, os militantes intelectuais. Não escutam nem
debatem, só protestam ou aclamam. Please, go home.