Da:Folha de São Paulo
Foi na marra que o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, 69, se rendeu à fotografia digital. "Cheguei a carregar até 600 filmes numa mala que pesava 28 quilos", disse ele na terça-feira (3), em sabatina promovida pela Folha.
A coisa mudou quando, no decorrer do projeto "Gênesis", cujas fotos serão expostas a partir de hoje em São Paulo, o transporte e a conservação dos filmes foram prejudicados pelos longos deslocamentos.
"Cheguei a passar por raio-X de sete aeroportos diferentes em um dia e a ação disso nos filmes era horrível, perdia-se muita qualidade. Hoje carrego 800 gramas de cartões de memória digital, que equivalem aos 600 filmes.
| Eduardo Knapp/Folhapress | |
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Sebastião Salgado durante sabatina no auditório da Folha |
De algumas coisas, no entanto, ele segue sem abrir mão. Como exibir sempre imagens em preto e branco, uma predileção que dominou o seu trabalho a partir de 1987, quando lançou as últimas imagens coloridas, durante a comemoração dos 70 anos da revolução soviética.
"No momento em que eu presto mais atenção ou me preocupo com a cor, como nacamiseta vermelha de uma garota, posso ter perdido o mais importante, a sua expressão", justificou e em seguida fez uma revelação dessas de atiçar a curiosidade geral.
Segundo Salgado, suas fotos são feitas em cores e só no processo de revelação é que se tornam preto e branco.
Outro ponto alto da conversa foi quando o fotógrafo falou do compartilhamento de fotos em redes sociais, uma febre que tornou todo usuário um projeto de fotógrafo.
"Eu sou de uma geração que tem muita dificuldade, muita vergonha de abaixar a calça e mostrar a bunda. Eu jamais teria Instagram nem exporia nada da minha intimidade", confessou ele, que disse ainda ser um mau usuário de internet.
As imagens do projeto "Gênesis", mote da sabatina, foram produzidas ao longo de oito anos em recantos intocados do planeta.
No ver de Salgado, são uma espécie de "fim de ciclo de uma vida inteira" --mas não da carreira.
"Ainda quero fazer algo com os índios brasileiros, que já fotografei muito, mas há um imenso contingente pouco conhecido e isso é fascinante", encerrou, se dizendo não um artista ou fotógrafo, mas, acima de tudo, um contador de histórias.
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