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ESTILO E EQUÍVOCO José Saramago: provocações à Igreja e amizade com Cuba |
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Único prêmio Nobel de Literatura da língua portuguesa, José Saramago morreu em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, na sexta-feira 18, aos 87 anos. Foi cronista, poeta, contista, dramaturgo, jornalista – mas consagrou-se no romance, gênero que exerceu com fôlego enciclopédico. Seus temas incluíram a revisão histórica(Memorial do Convento, História do Cerco de Lisboa), tributos a personalidades literárias (O Ano da Morte de Ricardo Reis) e alegorias críticas da condição moderna (Ensaio sobre a Cegueira). A carreira do escritor português foi marcada pela polêmica, sobretudo com a Igreja – ateu e comunista militante, ele fez provocações com a religião em O Evangelho segundo Jesus Cristo e em Caim, seu último livro.
Nascido na aldeia de Azinhaga, em 1922, Saramago teve uma infância pobre e nunca frequentou uma universidade. Estreou com o romance Terra do Pecado, em 1947, mas depois passou quase vinte anos sem publicar. Sua consagração, tardia, deu-se sobretudo a partir de Levantado do Chão, de 1980. Agraciado com o Nobel em 1998, Saramago é dos poucos autores contemporâneos em língua portuguesa que conseguiram cristalizar um estilo particular e inconfundível. Ao lado da criação literária, manteve-se sempre ativo, e equivocado, na política. Embora tenha feito críticas insignificantes a execuções de opositores em Cuba, declarava-se um "amigo" da ditadura dos irmãos Castro. Saramago morreu tranquilamente, em sua casa, na Espanha, vítima de complicações pulmonares. Nos países cujos regimes ele defendia, nenhum escritor que ousou discordar teve o luxo de uma morte tranquila.