Política
Sinais a decifrar O Globo OPINIÃO
Os sismógrafos da crise mostraram, durante a semana passada, alguns sinais negativos. Um deles, um novo e forte movimento de queda na rentabilidade dos títulos de curto prazo do Tesouro americano, o porto seguro mundial para quem teme perder dinheiro em qualquer outro mercado. A taxa desses títulos chegou a 1% ao ano.
Como a rentabilidade cai à medida que a procura pelos papéis aumenta, este 1% dá a medida da corrida em busca de segurança dos administradores financeiros.
Outro sinal negativo — além das dúvidas sobre o futuro das "Três Grandes" de Detroit — vinha do comportamento das ações do Citigroup.
Elas deram mais um mergulho, e, quando a semana acabou, o valor de mercado do banco havia sido cortado pela metade. Há um ano, a cotação da ação do Citi estava em US$ 30; sexta, em US$ 3,77.
Foi, então, mais um fim de semana de intenso trabalho e negociações entre Nova York e Washington. Até que domingo à noite — como já ocorreu nesta crise —, antes da abertura dos mercados no Ocidente, foi anunciado mais um plano de resgate de uma instituição financeira.
Os números do salvamento do Citi refletem a dimensão do problema: por acerto feito com a Secretaria do Tesouro, o Estado americano garante até US$ 306 bilhões — o equivalente a cerca de 30% do PIB brasileiro — em ativos problemáticos do banco (dívidas de cartões de crédito, hipotecas subprimes etc.), num esquema de divisão de ônus com o próprio banco. Em troca, passa a deter ações preferenciais do Citi no valor de US$ 27 bilhões, que renderão dividendos de 8% ao ano. Haverá, também, injeção de dinheiro público diretamente no banco. A crise, então, continua a desafiar os mais otimistas.
Parece claro que enquanto o mercado financeiro não considerar que tem informações seguras sobre o verdadeiro tamanho do volume de títulos ilíquidos entesourados entre Estados Unidos, Europa e Ásia, haverá grande resistência a que o crédito volte a fluir.
Enquanto isso, o setor produtivo continuará a padecer, em escala mundial. Alguns números começam a desenhar o contorno do problema fiscal que o Brasil poderá ter, por causa da retração dos negócios: em outubro, o recolhimento de Imposto de Renda sobre operações em bolsa encolheu 65,9%; o pagamento de IPI sobre automóveis caiu 8%. O total da arrecadação continua em alta nos primeiros dez meses do ano, mas as quedas localizadas devem levar as autoridades a pensar sobre o futuro. Haverá crise fiscal ou não a depender do comportamento das despesas em custeio.
Se ainda há dúvidas sobre a crise, pense-se sobre o tamanho da operação de resgate do Citi.
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