Embora com atraso, deixo aqui algumas notas avulsas sobre a derrota do Bloco nestas últimas eleições. Mas, antes de mais, um ponto prévio: acredito que os quase 5% que o Bloco perdeu nas nestas eleições devem ser maioritariamente encarados como o seu eleitorado flutuante. No fundo, um eleitorado que flutua sobretudo entre o centro-esquerda e a esquerda, entre as soluções moderadas e as soluções radicais, que hesita entre a faceta mais à esquerda do PS e a faceta menos à esquerda do Bloco. Tal como o disse anteriormente, da conquista deste eleitorado dependia (não exclusiva mas fortemente) um bom resultado.
Terminado este ponto prévio, centremo-nos agora em alguns factores que merecem, a meu ver, particular relevo para a explicação da derrota do passado Domingo. Divido-os em problemas estruturais/contextuais e erros tácticos. Quanto aos primeiros, destacaria os seguintes:
1) Por mais paradoxal que tal possa parecer, em contextos de forte austeridade, o medo, a sensação de inevitabilidade e a vontade de regresso à normalidade/sossego social levam a que o eleitorado tenda a não confiar em soluções de resistência ou de ruptura. Tal tendência prejudica sobretudo os partidos à esquerda.
2) A pressão do voto útil (tema mais do que badalado nesta eleição) em muito contribuiu para que muito do eleitorado que confiou no Bloco em 2009 regressasse agora ao PS;
3) Como alguns inquéritos já o demonstraram, grande parte do eleitorado que votou Bloco em 2009 não o fez pelo seu programa económico, mas sim por encontrar em tal partido uma esquerda moderna, urbana, de ideias arejadas e possuidora de grande verticalidade (por oposição a um PS que então se encontrava já submerso em casos). Assim sendo, numa campanha onde tudo foi economia, a mensagem do Bloco não convenceu o referido eleitorado que aprecia o Bloco sobretudo por outros motivos.
Quanto a erros tácticos do Bloco que expliquem o resultado obtido, estes têm sido já mais do que identificados nestes últimos dias:
a) O apoio a Manuel Alegre em tal contexto não correu bem ao Bloco. Apesar de ser a única solução possível para travar Cavaco, a proximidade ao PS deixou descontente algum eleitorado mais à esquerda e mesmo algum eleitorado que, sendo próximo do PS, não gostou de ver o Bloco a apoiar alguém com problemas de verticalidade.
b)A moção de censura foi uma jogada arriscada. Podia ter corrido bem, garantindo apoios na onda de contestação que então se adivinhava (e que culminou no 12 de Março). Mas acabou por resultar em 1 mês de violentas críticas na comunicação social. Por outro lado, o tal eleitorado que flutua entre o Bloco e o PS não gostou de ver o primeiro a assumir o papel de carrasco do segundo. Tal eleitorado preferia que tal papel ficasse reservado para a direita parlamentar.
c) A não comparência ao encontro da troika foi a cereja em cima deste bolo de erros tácticos. Porque embora não estivesse em causa qualquer negociação (e o Bloco fez bem em sublinhá-lo), abdicou-se do simbolismo de lá ir, de manifestar discordância e denunciar a farsa negocial. Deu-se assim o pretexto para que os adversários pudessem cavalgar a mensagem
non sense mas contagiosa de que “o Bloco nem sequer se deu ao trabalho de negociar”.
Posto isto, não havendo possibilidade de voltar atrás na derrota sofrida, importa ver na mesma uma oportunidade (bem sei que é um lugar comum dizê-lo, mas não deixa de ter o seu fundamento). O Bloco terá de discutir quem quer ser e quem pretende convencer. Terá de definir muito bem que lugar pretenderá ocupar no panorama político e em que eleitorado centrará o seu discurso. Esta discussão não será naturalmente pacífica, e possui naturais riscos num partido com as suas características. Mas é a solução evidente a aplicar no panorama actual.
(Imagem: 3th Eso Maths)
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