Strauss-Kahn e as teorias da conspiração Gilles Lapouge
Política

Strauss-Kahn e as teorias da conspiração Gilles Lapouge


O Estado de S.Paulo

Dominique Strauss-Kahn, ex-dirigente do FMI que deveria ser o próximo presidente francês, é acusado de estuprar uma camareira do hotel Sofitel de Nova York. Ele está recluso num apartamento em Manhattan, vigiado por guardas que ele próprio tem de pagar e espionado por câmeras o tempo todo.

Nessas condições, esperava-se que a emoção e a estupefação que se seguiram à fantástica derrocada do francês dariam lugar à racionalidade e a uma análise desse caso sórdido com olhos não deformadores. Ora, nada disso ocorre. A "teoria da conspiração", longe de desaparecer, cresce.

Numa pesquisa entre os franceses sobre o mistério do quarto 2806 do Sofitel de Nova York, 57% das pessoas consultadas disseram acreditar que o ex-diretor do FMI caiu numa armadilha. E armada por quem? As respostas são variadas.

Para uns, foi a CIA. Para outros, os grandes bancos americanos. Alguns acham que os responsáveis são franceses, ou seja, um grupo secreto animado por Nicolas Sarkozy, ou, ao contrário, teria sido um ardil concebido por socialistas rivais de Strauss-Kahn.

Outros possíveis culpados seriam os russos, que querem o caos no Ocidente. Outros denunciam os gregos, afetados pelo plano de austeridade imposto pelo FMI.

Eis agora a última invenção dos "detetives amadores". Não se tratou de um complô, mas de um engano. Como faz com frequência, Strauss-Kahn havia solicitado que enviassem ao seu quarto uma "garota de programa". Quando a camareira da Guiné entrou no quarto, ele achou que se tratava da moça e se lançou sobre a infeliz.

Desde os tempos da Babilônia e da Suméria, os homens imaginam que forças obscuras operam nas sociedades. Essa "mania de complô" tem sido embalada por duas razões: os atentados de 11 de setembro de 20o1, em Nova York, um fato tão demente que muitas pessoas negaram, enquanto outras imaginaram que os próprios americanos tinham lançado seus aviões contra as Torres Gêmeas. E, em segundo lugar, a internet, que permite que qualquer cérebro pequeno dissemine seus delírios.

Todas essas idiotices são, às vezes, utilizadas cinicamente por homens responsáveis. No caso de Strauss-Kahn, ouvimos deputados próximos do francês sugerirem que ele caiu numa armadilha.

O próprio Strauss-Kahn, um mês antes do desastre do Sofitel, disse que temia que os homens de Sarkozy inventassem um escândalo sexual para torpedeá-lo. Na internet, um número aparece constantemente: o número 14, que corresponde ao número de mulheres atacadas por Strauss-Kahn.

Estão anunciando que, nos próximos dias, entrarão em cena os astrólogos, que vêm estudando febrilmente o céu de Strauss-Kahn, seus planetas, seus aspectos, a posição de Marte, Vênus e, sobretudo, do Escorpião, signo da atividade sexual. É assim que, nesse nosso século racional, a verdade tenta abrir caminho, com dificuldade. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

É CORRESPONDENTE EM PARIS 




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