Entra em funcionamento a supermáquina feita
para desvendar os segredos do universo
Fabrice Cofrini/AFP |
Energia que vira massa |
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Na manhã da quarta-feira passada, os cientistas do laboratório de física Cern, na Suíça, ergueram copos de plástico para um brinde e celebraram ruidosamente uma grande vitória. Momentos antes, havia ocorrido a primeira demonstração da maior máquina já construída em todos os tempos, destinada a conduzir o mais ousado experimento da história da física. Trata-se do acelerador de partículas LHC (sigla em inglês para Large Hadron Collider), com o qual se pretende desvendar os mistérios do nascimento do universo e responder a questões cruciais da cosmologia, como a possível existência de outras dimensões. O LHC é um túnel de 27 quilômetros de extensão, construído a 100 metros de profundidade na fronteira entre a França e a Suíça. Em seu interior, os cientistas aceleram feixes de prótons a uma velocidade próxima à da luz e os fazem colidir. Com isso, pretende-se reproduzir as condições existentes no cosmo um trilionésimo de segundo depois do Big Bang, a grande expansão súbita que deu origem ao universo e a tudo o que ele abriga.
Entre o projeto e a construção, o LHC levou 24 anos para se materializar, ao custo de 8 bilhões de dólares bancados por um consórcio de países. Na quarta-feira, durante a demonstração da supermáquina, os cientistas fizeram um feixe de prótons viajar por toda a extensão do acelerador. Ainda deve demorar dois meses para que o LHC funcione de verdade, promovendo a colisão de prótons, mas ele já passou com brilho no primeiro teste. "Considerando os milhares de mecanismos e sistemas da máquina, que poderiam fazer com que algo desse errado, a estréia foi um sucesso", diz o físico Gustavo Burdman, da Universidade de São Paulo.
Vários aceleradores de partículas já foram construídos. O primeiro deles surgiu na Universidade da Califórnia, em 1931, e tinha apenas 30 centímetros de comprimento. O princípio que rege a todos é o mesmo. Os feixes de prótons são acelerados através da eletricidade e do magnetismo para adquirir energia. Quando ocorre o choque entre os feixes, a energia se converte em massa, segundo a célebre equação de Albert Einstein E=mc (energia é igual à massa multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado). No LHC, os feixes de prótons vão adquirir energia equivalente à de um trem de 400 toneladas viajando a 150 quilômetros por hora. Cada colisão produz milhares de novas partículas, analisadas por quatro enormes detectores. A partícula que mais desperta a curiosidade dos cientistas é o chamado bóson de Higgs, que, na teoria, explicaria o surgimento da matéria no universo. Com o brinde de quarta-feira passada, está aberto o caminho para essa e outras descobertas espetaculares.
Fabrice Cofrini/AFP |