Política
Tateando no escuro Merval Pereira
O GLOBOA reação até certo ponto bem-humorada do ex-ministro José Dirceu, hoje um dos articuladores da candidatura da Ministra Dilma Rousseff à sucessão de Lula, à previsão do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, de que o governador de São Paulo, José Serra, pode vencer no primeiro turno a eleição de 2010, é reveladora de que os petistas já trabalham com a possibilidade de derrota, especialmente agora que a doença da candidata oficial levou de volta à estaca zero as articulações políticas em torno de seu nome. O interessante a notar é que também na seara dos tucanos ninguém canta vitória, e a perplexidade é geral, sem que saibam o que vai acontecer com a candidatura da ministra Dilma Rousseff, ou se vai dar certo a estratégia governista de “humanizar” a imagem da ministra, diante da doença que a acomete.
Sem falar na cautela com que analisam a possibilidade de transferência de votos de Lula para sua candidata (o).
Até mesmo o governador José Serra, tido como o favorito pelas pesquisas de opinião, já não parece tão certo da vitória, e não descarta por completo a disputa da reeleição para o governo paulista, uma avaliação que deverá ser feita no início do próximo ano.
O PMDB velho de guerra, mais do que nunca, é o fiel da balança, e os palanques regionais dependem de articulações que passam pelo maior partido do país, seja para evitar enfrentá-lo, seja para tê-lo como aliado.
C o m a ex p e r i ê n c i a d e quem coordenou as alianças políticas que levaram à eleição de Lula em 2002, José Dirceu admite que Serra é o favorito, mas ressalta que os acordos políticos podem fazer a diferença.
O problema do PT é que fazer acordos com Lula é uma coisa, outra muito diferente é acertar os ponteiros com qualquer “japonês” do partido.
Há muito tempo que a força do PT se dissolveu nas lambanças do jogo político rasteiro, que o transformou em mais um participante do jogo, no mesmo nível do PMDB, sem uma ascendência moral que o faça prevalecer.
O presidente Lula se reinventou com êxito depois do mensalão, com o sucesso internacional retroalimentando a imagem interna, transformandoo em um líder midiático global invejado por seus pares pelos altos índices de popularidade num mundo em crise.
Os tucanos admitem que nos últimos tempos, depois da queda de popularidade devido à crise econômica, só aconteceram fatos a favor do governo, como o reconhecimento mundial da importância do Brasil, culminando com o elogio público de Obama a Lula.
Aguardam agora a medição dos efeitos da crise, como a alta do desemprego, na popularidade de Lula, e até mesmo como a doença da ministra Dilma Rousseff impactou a opinião pública.
Os governadores José Serra e Aécio Neves se aproximam, na certeza de que, mais do que nunca, dependem dessa união para manter o PSDB como um dos pólos de poder nacional, agora que a era Lula está chegando ao fim, e com ela o desequilíbrio que o inegável carisma presidencial traz consigo na disputa política.
O PSDB, que sobreviveu à era Lula por ter entre seus feitos o Plano Real implantado por Fernando Henrique Cardoso ainda como ministro da Fazenda de Itamar Franco, e suas raízes fortemente fincadas em São Paulo, tendo ampliado essa influência política para Minas Gerais com Aécio Neves, precisa aproveitar a saída de cena de Lula para superar novamente o PT, que, por sua vez, debate-se para se reinventar, sem seu principal líder e já sem a aura de partido emblemático que um dia ostentou.
O partido tem, no entanto, a máquina governamental altamente azeitada trabalhando a todo vapor para a manutenção do poder, que significa manter os empregos e a influência política. A militância petista tem hoje razões práticas para se empenhar na eleição de quem quer que seja.
É também para animar sua precária militância que o PSDB pretende realizar até setembro diversas manifestações regionais reunindo seus dois candidatos, Serra e Aécio.
A primeira está marcada para o dia 14 deste mês na Paraíba, onde Cássio Cunha Lima teve o mandato de governador cassado pelo TSE.
A escolha é simbólica para a região Nordeste, onde Lula tem grande força eleitoral.
Mesmo correndo o risco do desgaste político, os tucanos vão atrás de um dos seus líderes regionais que tem votos na região dominada pelo lulismo.
A essa se seguirão outras cinco ou seis manifestações, que ser virão para expor seus dois candidatos à militância e, sobretudo, para demonstrar que entre eles não há supremacias.
Mesmo considerado favorito, Serra teve que aceitar o plano de ação traçado por Aécio, que também cedeu quanto à data das prévias.
Serão realizadas, se necessário, “até fevereiro” de 2010, c o n t e n t a n d o S e r r a , p o r quem o partido deixaria tudo como está até o início do próximo ano, para só então anunciá-lo candidato oficial.
Ao mesmo tempo em que impôs um ritmo ao partido, mostrando publicamente sua força, Aécio Neves está bastante satisfeito com o comportamento de Serra, que tem lhe prestado todas as honras devidas, inclusive deixando no ar a possibilidade de vir a apoiá-lo.
Sem querer se impor apesar de aparecer como o franco favorito nas pesquisas de opinião, Serra tem deixado Aécio sem argumentos para se contrapor a ele, criando um clima favorável a um apoio do mineiro.
Em 2002 e em 2006, Lula venceu em Minas, embora Aécio tenha tido uma votação espetacular. Em 2010, tanto em São Paulo quanto em Minas, o PSDB já não tem candidatos tão fortes quanto tinha para manter seus redutos de poder.
Só a união em termos nacionais pode alavancar uma campanha eleitoral que pode levar o partido novamente ao poder central e a manter os principais estados do país.
Uma divisão como nas disputas anteriores pode tirar o partido do mapa político pelos próximos anos, mesmo sem a sombra de Lula.
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