Especial Longevidade e Juventude Terapias heterodoxas
Será que dá resultado?
Você é livre para seguir o tratamento que quiser.
Mas atenção: não basta que ele tenha alguma base
científica para ser efetivo diante do espelho
Adriana Dias Lopes
Sim, vive-se bem mais do que há um século. E, sim, o cinquentão de hoje pode ter a disposição e a aparência do quarentão de ontem. Mas, não, tais conquistas não são fruto de milagres: são resultado de avanços no conhecimento coletivo e muito esforço e contenção individual, como já percebeu quem se deu ao trabalho (e ao prazer) de ler as páginas precedentes. Ainda assim, você tem todo o direito de tentar tratamentos menos laboriosos que, à maneira das poções antigas, se vendem como capazes de estender a sua vida e devolver-lhe o corpinho e o rostinho de 30 e adjacências. Alguns até mostram um fundo científico, não é mesmo? Mas cuidado: isso não basta. Tratamento bom – não importa a área da medicina – é aquele testado com êxito em grandes populações. A seguir, VEJA elenca os métodos inócuos ou não que mais cativam os brasileiros na busca – sem suor – pela longevidade e (quase) eterna juventude.
MEDICINA ORTOMOLECULAR
A teoria ortomolecular tem como base as teses do americano Linus Pauling (1901-1994), prêmio Nobel de Química em 1954, por seu trabalho pioneiro a respeito da formação de moléculas, e da Paz em 1962, por suas manifestações de repúdio aos testes nucleares. Nos anos 50, depois de identificar o papel dos radicais livres no processo de degradação celular, ele passou a defender a suplementação de vitaminas e minerais para combatê-los. Os radicais livres são moléculas tóxicas que danificam o DNA das células e, dessa forma, aceleram o envelhecimento. Eles são combatidos naturalmente pelas vitaminas e minerais provenientes da alimentação, numa guerra que, no longo tempo, se revela perdida. A ideia de que seria possível dar uma mãozinha ao organismo mediante a adição de vitaminas e minerais sintetizados em laboratório faz, portanto, sentido. O problema é que não há comprovação de que antioxidantes artificiais tenham efeito benéfico sobre o corpo. Na verdade, o excesso deles pode até fazer mal.
GH
Secretado pela hipófise, o hormônio do crescimento (GH) estimula a multiplicação celular, participa da formação de tecido muscular e equilibra a distribuição de gordura pelo corpo. Por volta dos 30 anos, os níveis de GH começam a cair. Aos 55, são 70% menores do que eram entre os 18 e os 30 anos. Tal queda está associada a alguns dos sintomas naturais do envelhecimento. Por esse motivo, a partir da década de 80, com a chegada ao mercado da versão sintética do hormônio, o GH começou a ser utilizado como remédio para combater os efeitos deletérios da passagem dos anos. A reposição de GH, porém, só beneficia quem apresenta déficit real do hormônio – o que atinge apenas 10% dos homens e mulheres com mais de 60 anos. O uso da substância sem necessidade oferece riscos de retenção de líquidos, falência cardíaca, diabetes e até câncer.
MELATONINA
Produzido no cérebro pela glândula pineal, a melatonina é um hormônio que participa da regulação do sono. Durante a adolescência, há maior concentração de melatonina no organismo. Por essa razão, os jovens dormem tanto. Como os níveis da substância caem com a idade, as noites de sono vão perdendo a qualidade conforme os anos correm. Foi a importância da melatonina para uma boa noite de descanso que colocou o hormônio no rol das terapias antienvelhecimento. Isso porque, durante o repouso noturno, ocorre a síntese de GH, o hormônio do crescimento – ou seja, enquanto dormimos, as células se regeneram melhor. Captou a ideia? A ingestão de melatonina implicaria, assim, uma maior produção de GH, o que, por sua vez, retardaria o processo de degenerescência do organismo. O uso do hormônio como elixir da juventude tem origem também na sua decantada ação antioxidante. Mas nada disso está provado cientificamente.
DHEA
Sintetizado nas glândulas suprarrenais, o DHEA serve de matéria-prima para a fabricação dos hormônios sexuais. Ele começou a ser utilizado em tratamentos para remoçar nos anos 90, em clínicas de estética europeias. A questão é que o DHEA não é nem sequer um bom marcador do envelhecimento. Depois dos 40 anos, algumas pessoas apresentam queda nos níveis de DHEA. Em tais casos, aos 70 anos, a quantidade do hormônio no organismo é 75% menor do que era na mocidade. Outras pessoas, porém, não apresentam nenhuma alteração nos níveis de DHEA e há até aquelas que registram um aumento na concentração da substância com o avançar da idade. A reposição de DHEA só é indicada àqueles que possuem deficiência atípica. Do contrário, as doses extras propiciam o desenvolvimento de vários tipos de câncer – próstata, mama e testículos, entre eles.
Fontes: Alfredo Halpern, endocrinologista, Fábio Nasri e Renato Maia Guimarães, geriatras