O momento é propício para o Brasil investir em conhecimento e tecnologia em todos os setores da economia, com atração de cérebros para o Brasil com estratégias de desenvolvimento desse país para os próximos anos.
Foto: Selmy Yassuda
Com ‘Ilha do Petróleo’, UFRJ cria ‘Vale do Silício’ carioca para o pré-sal
Petróleo e Gás.
Até 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, a universidade pretende dar origem a uma espécie de Vale do Silício carioca – mas em vez de computação, como no
UFRJ atrai empresas de ponta do setor e abriga maior parque tecnológico de óleo do mundo, com investimentos privados de R$ 500 mi sobre entulho de obra no Fundão
Shlumberger é a primeira empresa a se instalar no parque tecnológica da Ilha do Petróleo
Empresas de ponta do setor de petróleo vão estabelecer na Ilha do Fundão, da UFRJ, o maior parque tecnológico de pesquisas em petróleo, gás e energia do mundo, com investimentos privados de R$ 500 milhões. Será a Ilha do Petróleo, voltada para os desafios do pré-sal.
Em área de 350 mil metros quadrados, serão estabelecidos centros de pesquisas e tecnologia de algumas das maiores empresas do mundo no setor, inclusive concorrentes diretas. “É o único lugar no mundo que reúne no mesmo local de desenvolvimento de pesquisas as três principais competidoras de serviços: Schlumberger, Baker Hughes e Halliburton. Você atravessa a rua e está no centro de pesquisas do outro. Houston (em Texas, Estados Unidos, capital mundial do petróleo) também tem isso, mas é mais disperso. Houve até competição de quem viria na frente”, riu o diretor-executivo do Parque Tecnológico, Maurício Guedes.
Vão se instalar no local Siemens, FMC Technologies, Usiminas, Tenaris Confab, EMC Computer Systems, BR Distribuidora, ESSS Engineering Simulation and Software, Ilos Instituto de Logístíca e Supply Chain, PAM Membranas. Apesar de não estar administrativamente no parque da UFRJ, a GE (General Electric) também vai integrar fisicamente o complexo – por um acordo da Prefeitura do Rio e do governo do Estado com o Exército, dono de área de 50.000 metros quadrados no Fundão. “As autoridades estão enxergando a UFRJ como uma força importante para a atração investimentos para a cidade. É uma visão do século 21”, celebra Guedes.
Maurício Guedes, diretor do parque, prevê sua expansão para além do Fundão
A Schlumberger largou primeiro: é a única já está instalada, desde novembro de 2010, com mais de cem funcionários. Sete novas obras começam neste segundo semestre, alguns centros estarão ativos já em 2012 e, até o fim de 2014 o parque estará instalado.
Serão 5.000 funcionários de alto nível técnico – entre engenheiros, geólogos, profissionais de informática, geofísicos – de diversas nacionalidades, embora a predominância seja de cerca de 90% de brasileiros, em ambiente global, característico do mundo acadêmico e da ciência.
O objetivo da UFRJ foi criar na Ilha do Fundão um “parque industrial” de excelência em alta tecnologia do século 21, aliar a vocação natural do Estado e se integrar à capacidade da universidade, da Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ), otimizando áreas antes desocupadas da Ilha do Fundão.
Infraestrutura instalada de pesquisa
Uma importante vantagem do parque é a infraestrutura já existente, que inclui – além da própria UFRJ – o segundo mais possante supercomputador da América Latina e o LabOceano, maior e mais profundo laboratório oceânico do mundo, ambos da Coppe. “O pressuposto é que se relacionem e tenham contratos de pesquisa com a UFRJ. Para se habilitarem para a licitação, todos apresentam um plano de cooperação com a universidade”, afirmou Guedes.
Prédio de linhas modernas que abriga o supercomputador da Coppe, disponível na ilha
“O supercomputador faz parte do pacote de tecnologia do parque. Não tem sentido cada empresa ter o seu se pode usar o nosso”, disse Álvaro Coutinho, coordenador do Nacad (Núcleo Avançado de Computação de Alto Desempenho), da Coppe.
Também presidente da Associação Internacional de Parques Tecnológicos, Maurício Guedes explica que o conceito é o de interação pessoal permanente, em um ambiente de criatividade e inovação. “A integração mais importante não é de máquinas, mas de pessoas.
As empresas poderiam até contratar o supercomputador e o laboratório oceânico, mas talvez nem sequer os conhecessem, ou se conhecessem não teriam segurança e facilidade de acesso aos coordenadores, como terão aqui. É a magia do parque tecnológico, não só nos anos 1950, mas mesmo hoje, com a globalização: o convívio pessoal, o encontro ocasional no restaurante, essa troca entre estudantes, professores, pesquisadores, gente entusiasmada criando empresas. É o papo furado que gera negócios”, vibra.
Prédio da Halliburton, em perspectiva, no parque tecnológico
O supercomputador e o LabOceano têm como principais clientes a Petrobras e o seu Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello), instituição de pesquisa que lançou a semente inicial do parque. Há décadas na Ilha do Fundão, o Cenpes – apontado pela UFRJ como “grande âncora do parque”, embora não faça formalmente parte do projeto – reúne 1.600 pessoas em desenvolvimento e engenharia de projetos. A nova concepção do atual projeto é de 1997 e foi impulsionada com a descoberta do pré-sal. “Está sendo atingido de forma não imaginada. Estamos no início de uma arrancada”, diz Guedes.
Para entrar na Ilha do Petróleo, as empresas receberam concessão, mediante licitação, de uso dos terrenos por 20 anos, renovável por mais 20, mediante o pagamento de aluguel, cujo valor mensal varia de R$ 3 a R$ 20 por metro quadrado. Os últimos terrenos disponíveis foram assumidos pela EMC, BG Group – que vai instalar seu centro de pesquisa mundial no Rio, segundo a UFRJ – e Siemens, em concorrência vencida em junho. Os centros de pesquisa vão pagar ao parque ainda uma taxa de serviço, semelhante a um condomínio, para a manutenção da área.
Alta tecnologia nasce sobre entulho de obra
Laboratório oceânico da Coppe será usado pelos centros de pesquisa para simulações de plataformas e navios em alto-mar
Um desafio físico do Fundão era a área útil para o empreendimento. A primeira concepção arquitetônica previa áreas que seriam alagadas parte do ano, por conta dos aterros que unificaram a Ilha do Fundão, originalmente dividida em oito ilhas. Após quebrarem a cabeça, “a solução foi fazer um acordo com a Comlurb, que passou a usar a ilha como depósito de entulho de obra. Foram trazidos aqui 100 mil caminhões de entulho”, conta Guedes. Assim, o parque de alta tecnologia está sendo erguido sobre entulho.
Para o diretor do parque tecnológico, a tendência é que o pólo atraia outras empresas do setor para o Rio. “Imaginamos que vamos viver o fenômeno de outras regiões do mundo, de extravasar as fronteiras do parque. Isso terá impacto no entorno da Ilha do Fundão e no Rio.” Para expandir o parque, a UFRJ agora negocia com o Exército Brasileiro a cessão de uma área de 240 mil metros que lhe pertence na ilha.