UM GRITO DE DENÚNCIA, UMA NOTA CONTRA A VIOLÊNCIA: JUSTIÇA AO COMPANHEIRO JOSÉ MARIA FILHO

                                            Foto: TV Jaguar 

UM GRITO DE DENÚNCIA, UMA NOTA CONTRA A VIOLÊNCIA: JUSTIÇA AO COMPANHEIRO JOSÉ MARIA FILHO

Um crime provoca indignação e inconformismo: o assassinato de Zé Maria, 44 anos, ocorrido neste dia 21 de abril de 2010. Ele era presidente da Associação Comunitária São João do Tomé, presidente da Associação dos Desapropriados Trabalhadores Rurais Sem Terra – Chapada do Apodi, liderança do movimento social – filho da comunidade do Sítio Tomé  - Limoeiro do Norte – CE,.   As razões do assassinato se encontram no centro dos conflitos provocados pela presença do agrohidronegócio, instalado em meados da década de 1990 na região jaguaribana.  Esses conflitos trouxeram uma realidade de profundas injustiças sociais para a nossa região. A Comunidade de Tomé bem como outras que se localizam na Chapada do Apodi sofrem o descaso e o desrespeito dos órgãos públicos e a irresponsabilidade das grandes empresas que se fixaram na Chapada e que atentam contra o meio ambiente, a saúde e a dignidade da pessoa humana.

Desde o inicio, Zé Maria  se envolveu nas diferentes lutas contra essas injustiças, estando presente  no Grito dos Excluídos, no Fórum Regional Pela Vida no Semi-Árido,  seminários contra os Agrotóxicos, discutindo a problemática do uso da água e denunciando a pulverização aérea que afeta gravemente a saúde da população e meio ambiente. Sua voz ecoou em todo o Vale do Jaguaribe através das emissoras de rádio tornando públicas as violações aos direitos humanos que vitimam as comunidades da Chapada do Apodi. 

            A firmeza de sua solidariedade o impulsionava ao debate e a denúncia cotidiana. Assumindo a defesa dos interesses coletivos, o bravo companheiro levou a todos os locais e momentos significativos das lutas os problemas dos trabalhadores rurais sem terra da Chapada do Apodí, as angústias e incertezas de centenas de famílias que recebem água contaminada por agrotóxicos e os infortúnios de dezenas de famílias que moram em casas de taipa na Comunidade do Tomé.

            Este envolvimento o fez vítima. Vítima de quem? De que? Vítima dos conflitos (terra, água, agrotóxicos) gerados pelo modelo de desenvolvimento do agrohidronegócio e, também, da inoperância, negligência e omissão dos poderes públicos em solucionar esses conflitos.          

Nos capítulos de nossa história muitos foram os/as companheiros/as que tombaram vítimas da expansão do agronegócio, da ganância desenfreada dos ricos exploradores e da violência social dos poderosos. Dentre eles/elas podemos citar o ecossocialista Chico Mendes, Pe. Josimo defensor da reforma agrária, a sindicalista Margarida Alves e a missionária Dorothy Stang.  Seja com o seu exemplo de luta, seja na forma como lhe ceifaram a vida, Zé Maria assemelha-se a todos/as eles/as. E assim como a luta e a memória dos bravos lutadores não foram apagadas com a violência perpetrada por seus assassinos, também não serão esquecidos os teus gritos contra o agrotóxico, a tua luta pela vida.

 Compreendendo a importância e a justeza das causas abraçadas pelo companheiro os movimentos e instituições que assinam esta nota vêm a público se solidarizar com a sua família e com toda a Comunidade do Sítio Tomé, repudiando todas as formas de violência, exigindo a apuração rigorosa do crime e a punição dos culpados.

  Nesse momento “descansa o guerreiro, enrola-se o covarde,

lamenta-se o tímido. Ao fundo, sem gemidos, a esperança dobra a esquina. É noite”.  E embora sendo noite e havendo trevas, a esperança desfigurada acena ao longe e teima em resistir. No coração dos/as lutadores/as a certeza de que o sangue do justo não é derramado em vão e dele brotarão as sementes do novo amanhã.

      

           

         Limoeiro do Norte, 21 de abril de 2010.

CÁRITAS DIOCESANA DE LIMOEIRO DO NORTE

NÚCLEO TRAMAS – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

RENAP – REDE NACIONAL DE ADVOGADOS POPULARES

MAB – MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGEM

CPT – COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – DIOCESE DE L. DO NORTE.

CPT – COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – DIOCESE DE QUIXADÁ.

PASTORAIS SOCIAIS – DIOCESE DE LIMOEIRO DO NORTE

MST – MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM-TERRA

FAFIDAM – FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS

CETRA – CENTRO DE ESTUDOS DO TRABALHO E ASSESSORIA AO TRABALHADOR

CONGREGAÇÃO DAS FILHAS DA CARIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS.

INSTITUTO DE JOVENS RURAIS DE QUIXERAMOBIM.

SINDIUTE – SINDICATO ÚNICO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DO CEARÁ

SIMSEP – SINDICATO DOS SERVIDORES MUNICIPAIS DE TABULEIRO DO NORTE

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